Índice Integrado de Seca – IIS
O Índice Integrado de Secas (IIS) para o mês de outubro aponta que a região mais crítica no Brasil, em relação aos desastres associados à seca, ainda é aquela que inclui o agreste dos estados da Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, onde se observa condição de seca severa a excepcional. No restante do país, são observados pontos isolados com as intensidades de seca severa e estrema.
Para mais informações sobre as condições de seca e seus impactos na Região Nordeste clique aqui.
Impactos na Vegetação: Áreas com condição de estresse hídrico
A avaliação de impactos do déficit hídrico na vegetação é realizada por meio do Índice de Suprimento de Água para a vegetação (ISACV). A condição de estresse hídrico acontece quando a água armazenada no solo é insuficiente para sustentar o crescimento vegetal. A região Nordeste é a que apresenta a maior área vegetativa com condição de estresse hídrico, totalizando 346.000 km2 (28% do NE). A região Norte é a segunda maior, apresentando cerca de 600.000 km2 (16% do N) de área impactada.
A condição de seca vegetativa prolongada (por vários meses, por exemplo) pode causar impactos nas reservas hídricas superficiais e até subterrâneas, podendo ocasionar escassez hídrica. Este fenômeno refere-se às incompatibilidades da oferta hídrica (armazenamento de água) em atender todas as demanda hídricas (abastecimento público, usos industriais, irrigação, entre outros).
Impactos Hidrológicos
É possível observar uma condição de seca fraca à severa nas bacias afluentes ao reservatório da UHE de Serra da Mesa (bacia do rio Tocantins) e de seca fraca na região do Sistema Cantareira, no Sudeste do país. Nas bacias afluentes ao reservatório da UHE de Três Marias (bacia do rio São Francisco), apesar de maior área exibir condição normal de seca, notam-se alguns pontos de seca fraca, próximos ao reservatório. De modo geral, todos estes reservatórios se encontram em situação de escassez hídrica ou de redução acentuada de sua reserva.
Os reservatórios do Sistema Cantareira, responsáveis pelo abastecimento de cerca de 7,5 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo, apresentou, no dia 31 de outubro de 2018, aproximadamente 34,5% da sua reserva hídrica, configurando situação de alerta. No mês de outubro de 2018, a vazão média afluente a estes reservatórios foi de 23,4 m³/s, o que representa 82% da média histórica para este mês (28,4 m³/s). Os cenários simulados para estes reservatórios sugerem que, considerando precipitações em torno da média climatológica, as vazões se manterão próximas da média histórica nos próximos meses.
O reservatório da UHE de Três Marias, localizado na porção alta da bacia do Rio São Francisco, na região Sudeste, operou em 31 de outubro de 2018, com aproximadamente 32,7% de seu volume útil armazenado Este reservatório tem apresentado importância para esta bacia, que enfrenta sua pior crise do histórico, contribuindo para a manutenção das vazões e das reservas hídricas nos trechos a jusante, principalmente para o reservatório de Sobradinho. No mês de outubro de 2018, a vazão média afluente a este reservatório foi de 167 m³/s (até dia 31), o que representa 69% da média histórica para este mês (243 m³/s).
O reservatório da UHE de Serra da Mesa localizado no curso principal do rio Tocantins, no município de Minaçú (Goiás), apresentou, no dia 31 de outubro de 2018, aproximadamente 11,7% do seu volume útil armazenado. Este reservatório, maior do Brasil, que tem como objetivo, além de outros usos, regularizar a vazão do rio principal e contribuir para o reabastecimento de reservatórios localizados no Tocantins, à jusante de Serra da Mesa, vem enfrentando desde 2015 condições hidrometeorológicas desfavoráveis, com vazões e precipitações abaixo da média, o que levou a um estado hídrico crítico, requerendo atenção e monitoramento constantes. No mês de outubro de 2018, a vazão média afluente a este reservatório foi de 195 m³/s, o que representa 76% da média histórica para este mês (256 m³/s). Os cenários simulados para este reservatório nos próximos meses, considerando precipitações em torno da média climatológica, sugerem que as vazões mantenham-se próximas da média histórica, condição mais confortável quando comparada ao ano de 2017/2018.
De acordo com o IIS para a região Nordeste, é possível observar uma condição de seca fraca a extrema na bacia afluente ao reservatório Epitácio Pessoa (Boqueirão) na Paraíba, assim como seca fraca a severa na região do reservatório Castanhão, no Ceará. Estes reservatórios se encontram em situação de escassez hídrica ou de redução acentuada de sua reserva.
Os valores de água armazenada nos açudes da região semiárida do Nordeste permanecem críticos. O reservatório Epitácio Pessoa/Boqueirão, localizado na porção sudeste do estado da Paraíba, apresentou, no dia 31 de outubro, de 2018, um volume útil armazenado de aproximadamente 26,6%. Este reservatório, que abastece a cidade de Campina Grande e outros dezoitos municípios paraibanos (cerca de 700 mil habitantes), está enfrentando condições hidrometeorológicas desfavoráveis desde 2012, o que vem reduzindo seu volume armazenado. No entanto, projeções para o reservatório Epitácio Pessoa/Boqueirão indicam que, mantendo-se as extrações atuais e com a retomada dos aportes do Rio São Francisco a partir de Dezembro (suspensa desde abril de 2018), o armazenamento de água, considerando um cenário de precipitação na média histórica, deverá permanecer com cerca de 25% da sua capacidade ao final de janeiro de 2019, situação mais confortável do que em janeiro de 2018. Ressalta-se que este cenário pode ser alterado devido a mudanças na vazão da transposição e na extração de água para o abastecimento público.
O reservatório Castanhão, maior reservatório do Nordeste, localizado no estado do Ceará, operou no dia 31 de outubro com um volume armazenado de 5,5% de sua capacidade total (6,7 bilhões de m3). Este reservatório, que abastece oito cidades no Vale do Jaguaribe, além da região da Grande Fortaleza e regiões vizinhas (cerca de 4,6 milhões de habitantes), assim como o Epitácio Pessoa/ Boqueirão na Paraíba, vem enfrentando condições hidrometeorológicas desfavoráveis desde 2012, ocasionando uma redução acentuada do seu volume armazenado. As projeções indicam que, considerando chuvas na média climatológica, o volume armazenado no Castanhão diminuirá, podendo chegar a 5,0% da sua capacidade no final de janeiro de 2019, situação mais confortável do que em janeiro de 2018.
Previsão sazonal e sub-sazonal para o Brasil
Na escala climática sazonal, há um estado de indefinição. Os indicadores oceânicos mostram que o Oceano Pacífico está com temperaturas acima da média, mas por outro lado, a atmosfera ainda não apresenta os sinais característicos de um El Niño. Entretanto, a maior parte dos modelos dinâmicos e estatísticos preveem um ligeiro aquecimento (aprox. 1.0°C) do Oceano Pacífico no prazo de 1 a 2 meses. Portanto recomenda-se um estado de atenção em relação a um possível El Niño ainda este ano. Em termos históricos, no Brasil os estados do Amazonas e Pará, e o norte do semiárido apresentam uma bem conhecida relação entre El Niños e déficit de chuva. De forma oposta, os estados da Região Sul podem sofrer com excesso de chuvas e decorrentes inundações.
A previsão por consenso entre o Climate Prediction Center (NOAA) e o International Research Institute (Columbia University) adota 80% de chance (normalmente seria de 33,3%) para a ocorrência de um El Niño fraco ainda este ano. As previsões sazonais de chuva do International Research Institute (produzidas em novembro de 2018 e válidas para DJF/2018-19) indicam chances de chuvas acima da média no extremo norte do semiárido e no extremo sul do Rio Grande do Sul e abaixo da média em Roraima. Nas demais regiões não há sinal confiável. As previsões elaboradas pelo CPTEC/INMET/FUNCEME (produzidas em outubro de 2018 e válidas para DJF/2018-19) mostram condições desfavoráveis no centro-sul do semiárido e na fronteira entre Goiás e Minas Gerais. Na Região Sul a previsão é de anomalias acima da média.
Destaca-se condições para chuvas substanciais nas Regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste, nas próximas 2 semanas. Atividade presente na escala subsazonal (OMJ) pode favorecer a intensificação desta precipitação na segunda semana ou ainda prolongar a atividade da chuva na região, possivelmente até a primeira semana de Dezembro.
Metodologia
Para detalhes sobre os métodos e dados utilizados para a compilação do ISS, bem como métodos de avaliação de impactos, clique aqui.
Para detalhes sobre os métodos e dados utilizados para a compilação do ISS, bem como métodos de avaliação de impactos, clique aqui.
1- Apresentação
A seca é considerada um fenômeno natural e recorrente em algumas regiões do Brasil, principalmente na região Nordeste, sendo caracterizada como uma ameaça natural à medida que ocorre de forma intensiva e extensiva em áreas densamente povoadas, podendo resultar em desastre quando as capacidades locais são insuficientes para evitar danos significativos e perdas socioeconômicas. Considerando que o Brasil é constituído por várias regiões, onde predominam uma grande diversidade de clima, vegetação e usos do solo, é importante que se disponha de um índice de seca que considere em sua formulação múltiplas informações que identifiquem convergências das evidências das condições de seca. Tais evidências são essenciais para maior confiabilidade nas tomadas de decisões relacionadas às ações de mitigação dos impactos em diferentes regiões do Brasil. Neste contexto, o monitoramento das condições de seca para todo o território brasileiro realizado pelo Cemaden tem como premissa a robustez metodológica e análise criteriosa das fontes e resolução espaço-temporal dos dados. Neste sentido, foi criado o Índice Integrado de Seca (ISS), que é uma combinação de indicadores de seca calculados a partir de dados observacionais de precipitação e dados da condição hídrica da vegetação.2 – Índice Integrado de Seca (IIS) O IIS consiste na combinação do Índice de Precipitação Padronizada (SPI) com o Índice de Suprimento de Água para a vegetação (ISACV), este estimado por sensoriamento remoto. O SPI é um índice amplamente utilizado para detectar a seca meteorológica em diversas escalas e pode ser interpretado como o número de desvios padrões nos quais a observação se afasta da média climatológica. O índice negativo representa condições de déficit hídrico, nas quais a precipitação é inferior à média climatológica, e índice positivo representa condições de excesso hídrico, que indicam precipitação superior à média histórica. Para integrar o IIS, o SPI é calculado a partir de dados observacionais de precipitação disponíveis no CEMADEN, no Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e Centros Estaduais de Meteorologia. O SPI é calculado com base na formulação proposta por Mckee et al. (1993) e considerando as escalas de 3, 6 e 12 meses.
O ISACV é calculado a partir do Índice de Vegetação da Diferença Normalizada (NDVI, sigla em inglês) e da temperatura da superfície, ambos do sensor MODIS a bordo dos satélites Terra e Aqua, disponibilizadas pelo Earth Observing System (EOS/NASA). Durante período de seca, o suprimento de água no solo não atende a demanda de água para o crescimento da vegetação. Consequentemente, ocorre o fechamento dos estômatos para a redução da perda de água do dossel pela evapotranspiração, levando ao aumento da temperatura. Assim, as características de adaptação fisiológicas da vegetação se alteram em função da umidade do solo e podem ser detectadas por meio de sensores em forma de características espectrais da copa da vegetação. O ISACV indica condição de seca quando o valor do NDVI é baixo (baixa atividade fotossintética) e a temperatura da vegetação é alta (estresse hídrico). Portanto, o índice é inversamente proporcional ao conteúdo de umidade do solo é fornece uma indicação indireta do suprimento de água para a vegetação. Mais detalhes sobre o ISACV podem ser encontrados em Cunha et al. (2015).
Para a compilação do ISS, os dados de SPIs nas escalas 3, 6 e 12 e o ISACV são reclassificados e compatibilizados de forma que as classes de ambos os índices traduzam nas mesmas intensidades de seca, as quais variam de fraca à excepcional. O ISS é calculado na escala mensal e apresentado com diferentes classes para as intensidades de seca.. Uma vez que o ISS é gerado em base georeferenciada para todo o Brasil, é possível a computação desse índice em nível municipal.
3 – Monitoramento e Modelagem Hidrológica
Diante da necessidade informações que subsidiem tomadas de decisões relacionadas às ações de mitigação dos impactos da seca em diferentes regiões do Brasil, o Cemaden vem monitorando a precipitação e a vazão em bacias hidrográficas estratégicas e simulando previsões e cenários de vazão e de volume armazenado nos reservatórios, através de atividades de modelagem hidrológica[1]. Para isso, utiliza-se o modelo PDM/Cemaden – Probability Distributed Model. Este é um modelo simplificado que utiliza como informações de entrada a precipitação e a evaporação potencial e gera informações sobre a vazão e o volume armazenado no reservatório em diversas escalas de tempo, de acordo com o esquema apresentado na Figura 1.
As previsões e os cenários de vazão são importantes para uma eficiente gestão do risco de escassez hídrica e vêm sendo divulgados em relatórios técnicos mensais disponibilizados no site do CEMADEN (Link para relatórios de Três Marias e Sistema Cantareira) e também em reuniões técnicas semanais com os Institutos responsáveis pela gestão dos recursos hídricos (p.e. Agência Nacional de Águas, Comitês de Bacias, Operador Nacional do Sistema Elétrico, Projetos de Irrigação, etc.), disponível em:
https://www.youtube.com/playlist?list=PLdDOTUuInCuwDJ8tsrVi-G5yULaOj0zRx e
https://www.youtube.com/playlist?list=PLdDOTUuInCuzUQxnqhXo1U32ndSjL1khm.
[1] Conjunto de equações matemáticas com a finalidade de representar, de forma simplificada, os processos hidrológicos (precipitação, evaporação, infiltração, armazenamento e vazão) que ocorrem em uma bacia hidrográfica.
4 – Referencias
CUNHA, A.P.M.; ALVALÁ, R.C.; NOBRE, C.A.; CARVALHO, M.A. 2015. Monitoring vegetative drought dynamics in the Brazilian semiarid region. Agricultural and Forest Meteorology. 214-215: 494-505. doi: 10.1016/j.agrformet.2015.09.010.
MCKEE, T.B.; DOESKEN, N.J.; KLEIST, J. The relationship of drought frequency and duration to time scales, In: Eighth Conference on Applied Climatology, Anaheim, California, 1993.
ZHANG R, CUARTAS LA, CARVALHO LA DE C DEUSDARÁ LEAL KR, MENDIONDO EM, ABE N, BIRKINSHAW S, MOHOR GS, SELUCHI ME, NOBRE CA. Season‐based rainfall–runoff modelling using the probability‐distributed model (PDM) for large basins in southeastern Brazil. Hydrological Processes. 2018 vol: 32 (14) pp: 2217-2230. https://doi.org/10.1002/hyp.13154