As projeções sobre as mudanças climáticas no Brasil sugerem que haverá aumento da secura na Região Nordeste, com reduções de chuva, aumento da temperatura, déficits de água e secas mais longas, aumentando a aridez, prevalecendo a seca mais acentuada na segunda metade do século 21. Essa análise foi apresentada pelo climatologista e pesquisador titular, José A. Marengo, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), durante a 3ª Conferência Científica da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação nos Países Afetados por Seca Grave e/ou Desertificação (UNCCD- sigla em inglês), ocorrida entre os dias 9 e 12 de março, em Cancun, no México.
No trabalho apresentado pelo pesquisador do Cemaden, foram traçados cenários com o uso de índice de aridez e o efeito da mudança climática sobre o balanço hídrico e a disponibilidade de água. Um aumento e intensificação das secas foi projetada para grande parte da América do Sul, incluindo o atual semiárido da Região Nordeste brasileira, devido à precipitação reduzida e/ou aumento da evapotranspiração, o que compromete a disponibilidade de água para irrigação agrícola.
A projeção apresenta um cenário de aumento da aridez, no período dos anos 2071-2100, com bases no aumento da extensão da região semiárida, combinado com a degradação da terra, o que aumenta o risco de desertificação. “Sobre o aumento de risco de seca/aridez e a vulnerabilidade das pessoas da região semiárida, é necessário considerar medidas de gestão de risco, as quais possam servir de base para a implementação de medidas de adaptação.”, afirma o cientista José A. Marengo.
Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação
Durante o evento, foi realizada a Sessão Extraordinária da Comissão de UNCCD de Ciência e Tecnologia, onde os cientistas emitiram um relatório alertando sobre danos irreversíveis à terra. Concluem que há a tendência de enormes faixas de terras do planeta ficarem com o solo estéril, resultante da soma de efeitos combinados da pobreza, da degradação de terra e das mudanças climáticas.
Junto a outros 192 países, o Brasil é signatário da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos das Secas – UNCCD, reconhecida como o instrumento fundamental para erradicar a pobreza e promover o desenvolvimento sustentável nas áreas rurais das terras secas, que incluem regiões do semiárido brasileiro.
A desertificação é definida como um processo de degradação ambiental causada pelo manejo inadequado dos recursos naturais nos espaços áridos, semiáridos e subúmidos secos, que compromete os sistemas produtivos das áreas susceptíveis, os serviços ambientais e a conservação da biodiversidade. No Brasil são 1.480 municípios susceptíveis a esse processo que pode ser causado pelo homem ou pela própria natureza e agravados pelas questões climáticas.
O Cemaden atua no monitoramento do semiárido do nordeste brasileiro, com o Projeto Sistema de Previsão de Risco de Colapso de Safras no Semiárido, instalando plataformas de coleta de dados agrometeorológicos e de umidade do solo, para acompanhamento de safras de culturas de subsistência na região semiáriada brasileira.