SUMÁRIO
A presente edição do Boletim Mensal de Impactos em Atividades Estratégicas para o Brasil, elaborado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), unidade de pesquisa do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), apresenta a Avaliação das Ocorrências e Alertas para Desastres Naturais (inundações, enxurradas e movimento de massa) para o mês de outubro de 2020 e o Diagnóstico e Cenários dos extremos pluviométricos (secas e inundações) e seus impactos em diferentes setores econômicos do Brasil.
No mês de outubro de 2020 foram enviados pela Sala de Situação do Cemaden 163 alertas, com 28 ocorrências registradas em municípios monitorados, sendo 16 de risco hidrológico e 12 de risco geológico.
No norte da Região Norte, grande parte do Nordeste e do Sudeste do Brasil, a maioria das estações hidrológicas disponíveis registraram níveis dos rios na média ou acima da média climatológica do período. Por outro lado, na região centro-sul do País, várias estações apresentam níveis dos rios na média ou abaixo da média. Essas condições refletem em parte o volume de chuva observado nessas áreas durante o mês de outubro. A previsão sazonal para o trimestre de novembro de 2020 a janeiro de 2021 (NDJ) pelo modelo GloFAS indica tendência de permanência do padrão observado durante os próximos meses.
O Índice Integrado de Seca (IIS) para o mês de outubro, se comparado ao do mês de setembro, aponta a intensificação da seca em algumas regiões do país, principalmente, na Região Sul e em porções dos estados de Mato Grosso, Rondônia e Amazonas. De acordo com os cenários de IIS para o mês de novembro, com chuvas 30% abaixo da média, as condições de seca poderão ser intensificadas na Região Norte, especialmente em Tocantins e Rondônia, assim como no estado de São Paulo, na Região Sudeste. Enquanto na Região Sul, ambos os cenários de chuva considerados apontam para um aumento do número de municípios em condição de seca severa à excepcional.
Os reservatórios do Sistema Cantareira e das Usinas Hidrelétricas (UHEs) Três Marias (rio São Francisco) e Serra da Mesa (rio Tocantins), em 31 de outubro de 2020, apresentaram armazenamento de 34,5%, 56%, e 27%, respectivamente. Considerando um cenário hipotético de chuvas na média histórica, a projeção de vazão afluente média a estes reservatórios, no trimestre NDJ, é de 73%, 90% e 107% da média, com armazenamento no final de janeiro de 2021 em 44%, 66% e 26%, respectivamente. Com relação ao monitoramento das UHEs da região Sul, em Itaipu, a vazão afluente foi 43% da média histórica para o mês de outubro, representando o valor mais crítico do registro histórico. Destaca-se a UHE Rosana, no rio Paranapanema, com vazão mensal abaixo dos registros médios desde novembro de 2019. Além disto, os reservatórios das UHEs de Barra Grande, Segredo e Passo Real, apresentaram redução no nível de armazenamento e de vazão afluente.
SÍNTESE DO ENVIO DE ALERTAS E REGISTRO DE OCORRÊNCIAS
Conforme verificado na Tabela 1, no mês de outubro de 2020 foram enviados pela Sala de Situação do Cemaden o total de 163 alertas para municípios monitorados, com destaque para a Região Sudeste (137 alertas)[1]. Em relação às ocorrências registradas para o período, estas também se concentraram na região Sudeste, com 14 eventos de risco hidrológico e 10 eventos de risco geológico.
Tabela 1 – Alertas enviados e ocorrências registradas nas diferentes regiões do Brasil no mês de outubro de 2020.
[1] Informações adicionais sobre o envio de alertas e o registro de ocorrências são apresentadas no Boletim Trimestral da Sala de Situação, disponível em http://www2.cemaden.gov.br/.
RISCO HIDROLÓGICO: Situação atual e previsão sazonal
A situação atual dos níveis dos principais rios do Brasil em relação a climatologia sazonal da estação de medição, em termos de percentis[2], é apresentada na Figura 1.
Observa-se que a maior parte das estações do centro-sul do Brasil encontram-se com níveis dos rios na média ou abaixo da média esperada para o período, principalmente na Região Sul, como reflexo do volume de chuva registrado abaixo da média nessas áreas. Por outro lado, no norte da Região Norte, Nordeste e parte do Sudeste do País, várias estações encontram-se com os níveis dos rios na média ou acima da média climatológica.
[2] O valor refere-se ao estimado a partir de histórico diário referente a cada dia do ano hidrológico regional. Estações de medição assinaladas com percentis mais elevados (em tons de azul) representam regiões onde o nível do rio está acima da média climatológica do período. Não indica necessariamente o transbordamento do rio, mas indicam um estado de atenção. Por outro lado, estações assinaladas com valores de percentis mais baixos (em tons de vermelho) indicam regiões onde o nível do rio está abaixo do esperado para essa época do ano.
A previsão sazonal para o trimestre de NDJ pelo modelo Global Flood Awareness System (GloFAS), indica probabilidade superior a 75% para ocorrência de vazões superiores à média nos rios localizados no norte da Região Norte, grande parte da Região Nordeste e em áreas do Sudeste e dos estados de Goiás e Mato Grosso do Sul. Em contrapartida, na Região Sul, grande parte da Região Centro-Oeste e no centro-sul da Amazônia, a previsão indica probabilidade acima de 75% para vazão dos rios abaixo da média climatológica para o período.
IMPACTOS DA SECA NA VEGETAÇÃO E NA AGRICULTURA
Índice Integrado de Seca (IIS): observado e cenários para o Brasil
O índice IIS observado para o mês de outubro (Figura 2a) apontou condição de seca moderada à severa em grande parte dos estados de Rondônia, Tocantins e Acre, na Região Norte, e o predomínio de seca fraca à moderada em grande parte da Região Nordeste. Condição de seca moderada à excepcional predominaram em grande parte da Região Centro-Oeste. Na Região Sudeste, o centro-norte do estado de São Paulo, Vale do Paraíba Paulista e o sudoeste de Minas Gerais apresentaram condição de seca entre moderada e extrema. Enquanto na Região Sul, Santa Catarina e o centro-norte do Rio Grande do Sul apresentaram maior intensificação da seca, em relação ao mês de setembro.
Quanto aos cenários de IIS para o mês de novembro (Figuras 2b e 2c), o cenário com chuvas 30% abaixo da média aponta intensificação da condição de seca na Região Norte, especialmente em Tocantins e Rondônia. Na Região Nordeste, os cenários com chuvas 30% acima ou 30% abaixo da média, indicam a desintensificação da seca. No Centro-Oeste, o cenário 30% acima da média também aponta um enfraquecimento da seca, principalmente nos estados de Mato Grosso e Goiás. Já o cenário 30% abaixo da média indica a possibilidade de seca moderada à intensa em grande parte dos municípios do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O cenário com chuvas 30% acima da média para a Região Sudeste aponta a desintensificação da seca na maior parte do estado de São Paulo, enquanto que o cenário de 30% abaixo da média indica a intensificação da seca neste estado, variando de moderada à extrema. Na Região Sul, ambos os cenários apontam para um aumento do número de municípios em condição de seca severa à excepcional, em relação ao mês de outubro.
Figura 2 – Índice Integrado de Seca (IIS) para o Brasil, observado no mês de outubro de 2020 (a) e projeções para o mês de novembro de 2020, considerando um cenário de chuvas 30% abaixo (b) e 30% acima da climatologia (c).
A descrição da estimativa do IIS, bem como mais detalhes sobre a avaliação dos impactos de secas para o mês de outubro, pode ser consultada no Boletim de Monitoramento de Secas e Impactos no Brasil (http://www2.cemaden.gov.br/monitoramento-de-secas-e-impactos-no-brasil-outubro2020/).
Registro de Impactos na Produção Agrícola
As chuvas abaixo da média e as temperaturas elevadas resultaram em impactos significativos na produção agrícola de diversas partes do Brasil, especialmente nos estados da Região Sul.
No estado do Paraná, registrou-se a redução na produção estimada do milho 2ª safra (de 11,4%, equivalente a uma perda de 1,5 milhões de toneladas) e do café (aproximadamente 15%). As condições de seca também têm dificultado o plantio da safra de 2020/21 de diferentes culturas agrícolas, como a mandioca, que apresentou problemas com a colheita devido ao solo muito seco e o atraso no desenvolvimento das novas lavouras (Departamento de Economia Rural do Paraná, Deral). Em Santa Catarina, foram observados o atraso no plantio do feijão, assim como prejuízos ao seu desenvolvimento, em diferentes regiões (Boletim Agropecuário do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola, Epagri/Cepa). No Rio Grande do Sul, houve redução na produtividade de grãos (como trigo e aveia), atraso na semeadura de soja e prejuízos ao desenvolvimento do feijão 1ª safra, em várias regiões do estado (Emater/RS-Ascar).
IMPACTOS DA SECA NOS RECURSOS HÍDRICOS
Sistema Cantareira
O Sistema Cantareira – sistema que abastece parte da região metropolitana de São Paulo – atingiu 34,5% de seu volume útil em 31 de outubro de 2020 (Figura 3), valor inferior ao observado no mesmo período de 2019 (40,4%). No mês de outubro, a precipitação acumulada na bacia foi 58% da média histórica, enquanto a vazão afluente atingiu apenas 27% da média histórica do mês.
Em um cenário hipotético de chuvas na média histórica, o modelo hidrológico PDM/Cemaden[3] projeta uma vazão afluente de, aproximadamente, 73% da média histórica para o trimestre NDJ. Ainda considerando este mesmo cenário de chuvas, o volume útil armazenado, em 31 de janeiro de 2021, deve aumentar, passando da atual faixa de operação “Alerta” para “Atenção”.
[3] O PDM/Cemaden é um modelo probabilístico baseado na umidade do solo e utiliza como entradas a precipitação e a evapotranspiração potencial para estimar a vazão.
Reservatório da UHE Três Marias, Bacia do Rio São Francisco
Na bacia afluente à Usina Hidrelétrica (UHE) Três Marias, no alto São Francisco, no mês de outubro, choveu 145% da média histórica e a vazão foi 65% da média no período. O armazenamento no reservatório atingiu 56% em 31 de outubro de 2020, valor ligeiramente superior ao registrado no mesmo período de 2019 (54%).
De acordo com as projeções hidrológicas para o trimestre NDJ, apresentadas na Figura 4, em um cenário hipotético de chuvas na média histórica, a vazão natural poderá atingir cerca de 90% da média, e o reservatório alcançar, aproximadamente, 66% do volume útil no final de janeiro de 2021, finalizando o trimestre na faixa de operação “Normal” (acima de 60% de armazenamento).
Reservatório da UHE Serra da Mesa, Bacia do Rio Tocantins
Na bacia afluente Usina Hidrelétrica (UHE) Serra da Mesa, no alto do Rio Tocantins, em outubro de 2020, choveu 122% da média histórica do período. A vazão natural, foi de 67% da média histórica para o mês e, o reservatório operou com 27% de armazenamento em 31 de outubro de 2020, valor superior ao observado no mesmo período de 2019 (14%).
As projeções hidrológicas para o trimestre NDJ, apresentadas na Figura 5, em um cenário hipotético de chuvas na média histórica, indicam que a vazão ficará acima da média do período (107%) e, o reservatório poderá atingir 26% do volume útil no final de janeiro de 2021.