Para entender as dinâmicas do fogo e clima na Amazônia, evitando análises errôneas, que podem gerar conclusões infundadas nos artigos científicos, pesquisadores das Universidades de Oxford e de Lancaster (do Reino Unido), do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) – ambas unidades de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) – publicaram o artigo na revista Global Change Biology, intitulado “Aprimorando a análise espaço-temporal dos incêndios na Amazônia ( “Improving the spatial‐temporal analysis of Amazonian fires”).
No artigo científico, os autores mostram cinco pontos principais que devem ser considerados para a compreensão das dinâmicas e interações entre a ocorrência de fogo e clima na Amazônia, destacando o mapa da vegetação, os diferentes regimes de precipitação da região, os tipos e origem do fogo na floresta e a dificuldade de identificação da ocorrência de fogo por satélite.
Primeiramente, os cientistas apontam o importante cuidado com o mapa de vegetação usado para caracterizar a região, uma vez que alguns pesquisadores apontam o sul da Bacia Amazônica como formado somente por savanas. Além dessa caracterização ser incorreta, têm grandes implicações sobre a ocorrência de fogo: nas savanas, o fogo ocorre de forma natural, o que não é o caso em florestas úmidas como a Amazônia. Portanto, ao errar na caracterização da vegetação de partes da região, pode levar a conclusões erradas sobre o regime de fogo.
Em segundo lugar, em análises de larga escala, é importante considerar os diferentes regimes de precipitação da Amazônia e, por consequência, dos períodos de seca. Por exemplo, há grandes diferenças entre o período seco do Norte e do Sul da bacia, assim como entre o Leste e Oeste, não sendo possível, portanto, atribuir um único período de seca para toda a região.
No terceiro ponto abordado, está o cuidado com o entendimento do fogo que está sendo medido, para fazer qualquer previsão sobre incêndios florestais e a resiliência da floresta a esse distúrbio, Na Amazônia, o fogo pode estar associado (1) ao desmatamento, (2) manejo de pastagens, (3) agricultura de subsistência e/ou (4) incêndios florestais. O que nos leva ao quarto problema – os incêndios florestais são muito difíceis de serem detectados por sensores remotos a bordo de satélites. Essa dificuldade ocorre porque, nas áreas do interior das florestas, as chamas do fogo apresentam, em média, 30 cm de altura, portanto, ficando escondidas dos satélites sob as copas de árvores, que podem atingir até 50 metros de altura.
Por último, os autores do artigo apontam que é sempre importante diferenciar desmatamento de degradação florestal, quando for realizar a caracterização de partes da bacia onde tem ocorrência do fogo. Enquanto o desmatamento leva à completa remoção da floresta, a degradação florestal resulta apenas em mudanças na estrutura da floresta. Apesar de não parecer algo impactante, a degradação da floresta tem profundos efeitos negativos para os ecossistemas e sociedade, alterando a biodiversidade, capacidade de estoque de carbono e outros benefícios que as florestas proveem para o planeta, perdurando por um longo prazo.
Os cientistas destacam que, sem considerar cuidadosamente cada um desses fatores, pesquisas podem chegar a resultados errôneos que por sua vez geram conclusões infundadas. Dada a importância da Amazônia na regulação climática do País e do mundo, é fundamental que pesquisadores se atentem para esses cinco fatores para gerar pesquisa de qualidade na região, que a cada dia se torna mais necessária.
O artigo fornece, ainda, uma base de dados que pode ser acessado livremente sobre o início, pico final e duração da estação seca para a Bacia Amazônica, a fim de disseminar melhor o entendimento da sazonalidade de chuvas nesta região.
Para mais detalhes, o artigo está disponibilizado no link :
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/gcb.15425
Fonte: Ascom/Cemaden