Os trabalhos envolveram cerca de 900 alunos do ensino médio da Escola Estadual Paulo Virgínio, no município de Cunha (SP), para a identificação das áreas de risco e as ações para prevenção de desastres naturais na região. Em parceria com o Projeto Cemaden Educação e sob a orientação de coordenadores e professores, os jovens realizaram atividades de pesquisas com metodologias interdisciplinares e inovadoras.
As experiências e aprendizagens adquiridas durante os trabalhos de pesquisas foram apresentadas por grupos de alunos do ensino médio durante a programação do evento “Diálogos de Cidadania na Prevenção de Desastres Socioambientais”, organizado na Escola Estadual Paulo Virgínio, no município de Cunha (SP), região metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte.
Os estudantes apresentaram aos pesquisadores do Cemaden os resultados de experiências e observações sobre os impactos dos desastres naturais na comunidade, identificação e mapeamento das áreas de risco e de vulnerabilidades, produção de maquetes das bacias hidrográficas, acompanhamento e monitoramento da chuva, além dos experimentos realizados com diversos tipos de pluviômetros.
O evento foi organizado pela escola em conjunto com o Projeto Cemaden Educação, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) – do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. As apresentações das atividades desenvolvidas pelos alunos ocorreram no pátio da escola, durante todo o dia e a noite desta terça-feira (22), com a participação de alunos e professores da escola e dos pesquisadores do Cemaden das áreas de meteorologia, geodinâmica, hidrologia e de desastres naturais.
Os pesquisadores fizeram considerações sobre o que assistiram, abordando os sistemas de alertas de desastres, vulnerabilidade e sobre a pesquisa científica, em diálogo aberto entre pesquisadores iniciantes e especialistas.
Experiências dos alunos nas pesquisas científicas e coleta da história oral
Na opinião geral dos alunos, muitas experiências e conhecimentos foram adquiridos por meio das atividades de pesquisas científicas e pelas entrevistas com os moradores impactados pelas inundações na região. Mesmo os que tiveram imprevistos e obstáculos para a realização das atividades, apresentaram soluções e inovações. Entre os exemplos, a produção de pluviômetros artesanais com materiais adequados ou para a facilitação da leitura, além da inclusão nas pesquisas da busca de soluções junto à comunidade. Também, surgiu o interesse por carreiras profissionais nas áreas científicas e sociais, após as atividades realizadas em campo, onde interagiram com o ambiente e com os moradores.
“Na busca de soluções para os problemas de vulnerabilidades, concluímos que não depende só de gestão política, mas da união de todos para as ações de mudanças.”, afirma Wellington Geraldo Araújo, de 18 anos, estudante do 3º ano do ensino médio. “Ouvir dos moradores antigos o que era o Rio das Pedras, no passado, e vendo como o rio está agora, nos conscientizamos sobre a necessidade de ações para a transformação ambiental, social e econômica na cidade.” declara Rayssa Gabriela do Rosário Silva, de 18 anos. “Identificamos que pela mata e umidade, chove mais na zona rural do que na área urbana. Acredito que pelo conhecimento obtido na escola e na vida, aumenta nosso compromisso de ajudarmos a comunidade.”, conclui Eduardo da Silva, de 16 anos, aluno do 2º ano do ensino médio. “É importante o conhecimento das bacias hidrográficas e o monitoramento das chuvas, para compartilhar informações na prevenção de desastres naturais.”, diz Hogre Alexo, 16 anos, aluno do 2º ano do ensino médio.
Projeto Cemaden Educação em Cunha
A Escola Estadual Paulo Virgínio – do município de Cunha (SP), cidade monitorada pelo Cemaden – é integrante do Cemaden Educação, projeto piloto implantado, desde 2014, para incentivar os estudantes a desenvolverem pesquisas, monitorar o clima, produzir e compartilhar seus conhecimentos. O objetivo é o construir uma cultura de percepção de riscos e prevenção de desastres envolvendo os jovens e as comunidades.
As metodologias pedagógicas são desenvolvidas de forma participativa e interdisciplinar, embasadas na educação ambiental para a construção de sociedades sustentáveis e resilientes. A escola definiu que os trabalhos dos alunos fossem acompanhados por uma banca formada pelos professores da escola, como uma das atividades de avaliação bimestral.
O diretor da escola, Profº. Benedito Edson Galvão de França – que já foi aluno, professor e agora gestor nos últimos 26 anos – considerou que o envolvimento do corpo docente foi fundamental para os resultados positivos obtidos junto aos alunos, principalmente, das disciplinas de Física, Geografia e História. “As atividades envolveram a escola de forma coletiva, formando a conscientização e responsabilidade dos alunos frente ao tema ambiental e de prevenção de desastres naturais no município.”, afirma o diretor, acrescentando que os trabalhos de pesquisas e atividades em campo permitiram gerar uma interação e a socialização entre os alunos e comunidade.
“A proposta pedagógica do Projeto Cemaden Educação tem uma perspectiva mais aberta, diferenciada, aproximando os alunos do conhecimento científico e sua aplicação na vida real.”, diz a coordenadora pedagógica, Profa. Shirley Fernandes Monteiro. “Os trabalhos desenvolvidos pelos alunos trouxeram conhecimentos e experiências que vão levar para o resto da vida. Foi uma oportunidade para uma transformação, gerando a atitude da procura de ações para mudanças e solução dos problemas das comunidades nas áreas de risco.”, enfatiza a professora.
“A base conceitual do projeto é a utilização da metodologia trans e interdisciplinar para a produção de conhecimento na escola. Isso gera a construção gradativa, contínua e crescente entre a ciência e sua aplicação socioambiental.”, frisa a coordenadora do Projeto Cemaden Educação, pesquisadora e antropóloga Rachel Trajber. Destaca, também, ser fundamental a parceria com a coordenação pedagógica das escolas no desenvolvimento do projeto.
O evento “Diálogos de Cidadania na Prevenção de Desastres Socioambientais”, realizado em Cunha, contou, também, com as parcerias da Diretoria de Ensino da Região de Guaratinguetá, Secretaria Municipal de Educação, Programa Escola da Família, Projeto Sala de Leitura, Parque Estadual da Serra do Mar, OSCIP Serra Acima e Colégio Albert Einstein de Guaratinguetá.