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Boletim de impactos em áreas estratégicas para o Brasil – 09/07/2020

SUMÁRIO

A presente edição do Boletim Mensal de Impactos em Atividades Estratégicas para o Brasil, elaborado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), unidade de pesquisa do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), apresenta a Avaliação das Ocorrências e Alertas para Desastres Naturais (inundações, enxurradas e movimento de massa) para o mês de junho 2020 e o Diagnóstico e Cenários dos eventos extremos (secas e inundações) e seus impactos em diferentes setores econômicos do Brasil.

No mês de junho de 2020 foram enviados pela Sala de Situação do Cemaden 179 alertas, com 49 ocorrências registradas, destas 23 de risco geológico e 26 de risco hidrológico, concentradas principalmente na região Nordeste (59%) do país.

No início do mês de junho, o nível de alguns rios no Rio Grande do Sul já se encontrava na média climatológica e, a ocorrência dos eventos de chuva intensa no final de junho/início de julho, resultou na cheia de rios na região metropolitana de Porto Alegre. A previsão sazonal para o trimestre de junho-julho-agosto (JAS) indica probabilidade acima de 75% para maiores vazões dos rios localizados na Região Norte, faixa costeira do Nordeste, centro-sul dos estados de Minas Gerais e Goiás e oeste da Bahia.

O Índice Integrado de Seca (IIS) observado no mês de junho de 2020 apresentou desintensificação da seca principalmente nos estados do Mato Grosso do Sul, São Paulo e Região Sul do país. Por outro lado, em relação ao mês de maio, o índice aponta a intensificação da seca principalmente nos estados do Acre e do Rio de Janeiro. De acordo com cenários de IIS para o mês de julho, permanecem as condições de seca na porção oeste do estado do Acre, no Maranhão, porção noroeste do estado de São Paulo, no Vale do Paraíba Paulista, porção oeste do Rio de Janeiro, leste do estado de Santa Catarina e nordeste do Rio Grande do Sul.

O Sistema Cantareira, e as bacias afluentes aos reservatórios de Três Marias e Serra da Mesa, em 30 de junho de 2020, apresentaram armazenamento de 56%, 91%, e 38%, respectivamente. Considerando um cenário hipotético de chuvas na média histórica, a projeção de vazão afluente média no trimestre JAS, é de 66%, 78% e 115%, com armazenamento no final de setembro de 2020 de 47%, 68% e 36%, respectivamente.

Síntese do envio de alertas e registro de ocorrências no mês de junho de 2020

Conforme verificado na Tabela 1, no mês de junho de 2020 foram enviados pela Sala de Situação do Cemaden o total de 179 alertas, com destaque para a Região Nordeste (95 alertas). Em relação às ocorrências registradas para o período, a maior concentração também ocorreu na Região Nordeste, com 14 eventos geológicos e 15 hidrológicos [1].

Tabela 1 – Alertas enviados e ocorrências registradas nas diferentes regiões do Brasil no mês de junho de 2020.

[1] Informações adicionais sobre o envio de alertas e o registro de ocorrências são apresentadas no Boletim Trimestral da Sala de Situação, disponível em http://www2.cemaden.gov.br/.

RISCO HIDROLÓGICO: Situação atual e previsão sazonal para os principais rios do Brasil

A situação atual dos níveis dos principais rios do Brasil em relação a climatologia sazonal da estação de medição, em termos de percentis[2], é apresentada na Figura 1.

Figura 1 – Situação dos níveis dos rios no Brasil na data de 08/07/20 em relação a climatologia sazonal da estação de medição em termos de percentis.

[2] O valor refere-se ao estimado a partir de histórico diário referente a cada dia do ano hidrológico regional. Estações de medição assinaladas com percentis mais elevados (em tons de azul) representam regiões onde o nível do rio está acima da média climatológica do período. Não indica necessariamente o transbordamento do rio, mas indicam um estado de atenção. Por outro lado, estações assinaladas com valores de percentis mais baixos (em tons de vermelho) indicam regiões onde o nível do rio está abaixo do esperado para essa época do ano.

Observa-se que em grande parte das Regiões Norte, Sul e na faixa leste do Nordeste e Sudeste do Brasil, os níveis dos rios encontram-se com valores na média ou acima da média para o período. Por outro lado, na região central do País, verificam-se várias estações com o nível do rio abaixo do esperado para essa época do ano. Isso pode estar associado ao fato de que, além do mês de junho ser climatologicamente menos chuvoso na região central do Brasil, o volume de chuva registrado foi abaixo da média.

No Rio Grande Sul, no início do mês de junho, os níveis de alguns rios já se encontravam na média climatológica e com a ocorrência dos eventos de chuva intensa no final de junho (30/06) e início de julho (07/07), fez com que os rios Caí e Taquari transbordassem. Esse fato resultou em impactos de inundações em municípios como São Sebastião do Caí e Feliz. A cheia desses rios alcançou período de retorno superior a 20 anos (cheia severa).

A previsão sazonal para o trimestre de JAS pelo modelo Global Flood Awareness System (GloFAS) indica probabilidade acima de 75% para maiores vazões dos rios localizados na Região Norte, faixa costeira do Nordeste, centro-sul dos estados de Minas Gerais e Goiás e oeste da Bahia.

IMPACTOS DA SECA NA VEGETAÇÃO E NA AGRICULTURA

Índice Integrado de Seca (IIS): observado no mês de junho de 2020 e cenários para o mês de julho de 2020 em todo o Brasil

Em relação ao mês de maio, o IIS para o mês de junho de 2020 aponta a desintensificação da seca principalmente nos estados do Mato Grosso do Sul, São Paulo e estados da Região Sul do país. Por outro lado, o índice aponta a intensificação da seca principalmente nos estados do Acre e do Rio de Janeiro (Figura 2a). Destaca-se que nesses estados, algumas regiões apresentaram a alteração da condição de seca fraca para condição de seca moderada e até severa. De acordo com cenários de IIS para o mês de julho (considerando chuvas 30% abaixo e acima da média), permanecem as condições de seca na porção oeste do estado do Acre, no Maranhão, porção noroeste do estado de São Paulo, no Vale do Paraíba Paulista, porção oeste do Rio de Janeiro, leste do estado de Santa Catarina e nordeste do Rio Grande do Sul (Figuras 2b, 2c).

A descrição da estimativa do ISS, pode ser consultada no Boletim de Monitoramento de Secas e Impactos no Brasil (http://www2.cemaden.gov.br/monitoramento-de-secas-e-impactos-no-brasil-maio2020/).

Figura 2 – Índice Integrado de Seca (IIS) para todo o Brasil, observado no mês de junho de 2020 (a) e projeções para o mês de julho de 2020, considerando um cenário de chuvas 30% abaixo (b) e 30% acima da climatologia (c).

Impactos da seca na agricultura familiar – Região Sul e Estados de São Paulo e Rio de Janeiro

Em decorrência dos acumulados de chuva acima da média no mês de junho, as condições de seca foram amenizadas em toda a região Sul do país (Figura 3a). No entanto, manteve-se condição de seca severa e extrema no leste do estado de Santa Catarina e porção nordeste do Rio Grande do Sul. Em relação aos municípios com áreas agroprodutivas afetadas, o Estado de Santa Catarina concentrou o maior número de municípios (59) com mais do que 80% das áreas afetadas.

Figura 3 – Índice Integrado de Seca (IIS) para a região Sul do país, observado no mês de junho de 2020 (a) e projeções para o mês de julho de 2020, considerando um cenário de chuvas 30% abaixo (b) e 30% acima da climatologia (c).

Em decorrência da severidade da seca associada às elevadas temperaturas observadas em toda a região, perdas significativas na agricultura têm ocorrido nos três estados da Região Sul. De acordo com os dados do Departamento de Economia Rural (Deral), no Estado do Paraná foram registradas perdas na produção de milho (15%) e de feijão (27%) em relação à safra de 2018/2019. No Estado de Santa Catarina, as perdas na produtividade do milho foram de 9% no estado e 22% e 43% nas regiões de Curitibanos e Campos de Lages, respectivamente, e do feijão 1ª e 2ª safras as perdas foram de 3% e 14%, respectivamente, em relação à safra 2018/2019 (Epagri/Cepa). Para o Rio Grande do Sul, em razão das secas nos últimos meses, tem-se registrado perdas no rendimento de diversas culturas, como a mandioca, na região de Lajeado, e pimentão, na região de Porto Alegre, conforme Emater/RS-Ascar.

Considerando os cenários de chuvas 30% abaixo e 30% acima da média, o IIS projetado para o mês de julho mostra amenização das condições de seca em toda a região Sul do país (Figuras 3b, 3c). No entanto, permanece condição de seca moderada em aproximadamente 13% dos municípios e de seca severa em 1% dos municípios no cenário de chuvas abaixo da média.

Para o Estado de São Paulo, em relação ao mês de maio, o IIS no mês de junho (Figura 4a) mostra desintensificação das condições de seca em todo o estado. No entanto, em ambos os cenários de IIS, municípios localizados na porção noroeste do estado de São Paulo e no Vale do Paraíba devem permanecer com condição de seca severa a extrema (Figuras 4b, 4c). Para o Estado do Rio de Janeiro, em relação ao mês de maio, observou-se a intensificação da seca, principalmente na porção oeste do Estado, tal condição deve permanecer de acordo com ambos os cenários de IIS.

Figura 4 – Índice Integrado de Seca (IIS) para os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, observado no mês de junho de 2020 (a) e projeções para o mês de julho de 2020, considerando um cenário de chuvas 30% abaixo (b) e 30% acima da climatologia (c).

IMPACTOS DOS EVENTOS EXTREMOS NA HIDROLOGIA

Sistema Cantareira

O Sistema Cantareira – sistema que abastece parte da região metropolitana de São Paulo – atingiu 56% de seu volume útil em 30 de junho de 2020 (Figura 5), valor semelhante ao observado no mesmo período de 2019 (55%). No mês de junho, a precipitação acumulada na bacia foi 30% acima da média histórica, enquanto a vazão afluente representou 50% da média histórica do mês.

Figura 5 – Histórico e cenários (junho a setembro de 2020) de armazenamento (%) no Sistema Cantareira. As faixas coloridas indicam os limites operacionais estabelecidos na Resolução conjunta ANA/DAEE N° 925.

Em um cenário hipotético de chuvas na média histórica, o modelo hidrológico PDM/Cemaden[3] projeta uma vazão afluente de, aproximadamente, 66% da média histórica para o trimestre JAS/2020. Ainda considerando este mesmo cenário de chuvas, o volume útil armazenado poderá atingir valores em torno de 47% em 30 de setembro de 2020, finalizando o trimestre JAS na faixa de operação “Atenção”.

[3] O PDM/Cemaden é um modelo probabilístico baseado na umidade do solo e utiliza como entradas a precipitação e a evapotranspiração potencial para estimar a vazão.

Para maiores informações, consulte o Boletim da Situação atual e projeção hidrológica para o Sistema Cantareira – Junho de 2020 (http://www2.cemaden.gov.br/situacao-atual-e-projecao-hidrologica-para-o-sistema-cantareira-30062020/).

Reservatório da UHE Três Marias, Bacia do Rio São Francisco

Na bacia afluente à Usina Hidrelétrica (UHE) Três Marias, no alto São Francisco, choveu apenas 16% da média histórica e a vazão foi 91% da média histórica para este período. O armazenamento no reservatório atingiu 92% em 30 de junho de 2020, valor superior ao registrado no mesmo período de 2019 (80%).

De acordo com as projeções hidrológicas para o trimestre JAS de 2020, apresentadas na Figura 6a, em um cenário hipotético de chuvas na média histórica, a vazão natural poderá atingir cerca de 78% da média histórica, e o reservatório poderá atingir valores de, aproximadamente, 68% do volume útil no final de setembro de 2020.

Maiores informações podem ser encontradas no Boletim da Situação Atual e Projeção Hidrológica para o Reservatório Três Marias – Junho de 2020 (http://www2.cemaden.gov.br/situacao-atual-e-projecao-hidrologica-para-reservatorio-tres-marias-02072020/).

Figura 6 – Histórico e cenários (junho a setembro 2020) de vazão natural média mensal (m³/s) aos reservatórios de Três Marias (a) e Serra da Mesa (b).

Reservatório da UHE Serra da Mesa, Bacia do Rio Tocantins

Na bacia afluente Usina Hidrelétrica (UHE) Serra da Mesa, no alto do Rio Tocantins, em junho de 2020, não houve registro de chuva (média histórica 14 mm). Ainda assim, a vazão natural foi 9% superior à média histórica para o mês, devido às chuvas acima da climatologia que ocorreram nos meses de janeiro a abril. O reservatório operou com 38% de armazenamento em 30 de junho de 2020.

Segundo as projeções hidrológicas para o trimestre JAS de 2020, apresentadas na Figura 6b, em um cenário hipotético de chuvas na média histórica, a vazão ficará em torno de 15% acima da média histórica do período e, o reservatório poderá atingir 36% do volume útil no final de setembro de 2020.

Maiores informações podem ser encontradas no Boletim da Situação Atual e Projeção Hidrológica para o Reservatório Serra da Mesa – Junho de 2020 (http://www2.cemaden.gov.br/situacao-atual-e-projecao-hidrologica-para-o-reservatorio-de-serra-da-mesa-bacia-do-rio-tocantins-01072020/).

Seca na Região Sul do Brasil

Desde o segundo semestre de 2019, tem-se observado déficit de chuvas em toda a Região Sul do Brasil, resultando na redução das vazões dos rios. Nos últimos meses registrou-se valores de vazão em torno dos mínimos históricos, e consequentemente, ocorreu uma severa diminuição do nível de armazenamento nos reservatórios, causando impactos na geração de energia elétrica e no abastecimento de água nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

A bacia afluente a UHE Itaipu, localizada no Rio Paraná – Santa Catarina, registrou vazão afluente correspondente a 65% da média histórica para o mês de junho. Para a UHE Segredo, localizada no Rio Iguaçu – Paraná, a vazão foi, aproximadamente 22% da média histórica e o armazenamento atingiu 32% do volume útil no dia 30 de junho de 2020. Na bacia de drenagem da UHE Passo Real, localizada no Rio Jacuí – Rio Grande do Sul, a vazão correspondeu a 52% da média histórica do mês de junho e o armazenamento atingiu 39% no final de junho de 2020. Com relação à UHE Barra Grande, localizada no rio Pelotas, sub-bacia do Rio Uruguaia vazão correspondeu a 34% da média histórica para este mês e armazenamento no reservatório foi 20% do seu volume útil.

IMPACTOS DOS EXTREMOS NA AGRICULTURA E HIDROLOGIA: Junho/2020

[4] A sigla MLT significa Média de Longo Termo ou, em outras palavras, média que representa a situação observada por longo período, geralmente igual ou maior que 30 anos.

IMPACTOS DOS EXTREMOS NA AGRICULTURA E HIDROLOGIA: POSSÍVEIS CENÁRIOS

Diretor do Cemaden: Osvaldo Luiz Leal de Moraes

Coordenador Responsável: José A. Marengo

Revisores Científicos desta Edição: José A. Marengo, Marcelo Seluchi

Colaboradores: Adriana Cuartas, Ana Paula Cunha, Conrado Rudorff, Daniela França, Elisângela Broedel, Fabiani Bender, Karinne Deusdará-Leal, Lidiane Costa, Marcelo Seluchi, Marcelo Zeri, Márcio Moraes, Paula Paes, Rafael Luiz, Valesca Fernandes, Vinicius Sperling

NOTAS IMPORTANTES:

1. Os relatórios com informações mais detalhadas sobre a situação atual das principais reservas hídricas e condições de seca em todo o País, bem como as projeções hidrológicas e possíveis cenários de impactos da seca, encontram-se disponíveis e atualizados no Website do Cemaden (https://www2.cemaden.gov.br).

 2. As informações/produtos apresentados não podem ser usados para fins comerciais, copiados integral ou parcialmente para a reprodução em meios de divulgação, sem a expressa autorização do Cemaden/MCTI e dos demais órgãos com os quais o Cemaden mantém parcerias. Os usuários deverão sempre mencionar a fonte das informações/dados da instituição como sendo do Cemaden/MCTI. Ressaltamos que a geração e a divulgação das informações/produtos consideram critérios de qualidade e consistência dos dados.

 3. Registramos, ainda, que os dados da rede de monitoramento de desastres naturais disponibilizados via Mapa Interativo no website do Cemaden não passaram por nenhum tratamento, portanto poderá haver inconsistências nesses dados.

 

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