SUMÁRIO
A sexta edição do boletim mensal de previsão de impactos em atividades estratégicas para o Brasil, elaborado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), unidade de pesquisa do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC), traz os cenários mais prováveis de impactos nos recursos hídricos e na vegetação, em diferentes setores do Brasil, bem como na agricultura familiar de sequeiro para o semiárido, no decorrer do trimestre janeiro, fevereiro e março de 2019 (JFM/2019). Neste boletim, ainda são destaques a situação do Sistema Cantareira, as projeções para as vazões afluentes aos reservatórios de Três Marias e Serra da Mesa e os possíveis cenários para os volumes armazenados nos açudes monitorados no semiárido da Região Nordeste, nos meses subsequentes.
A situação de armazenamento do reservatório do Sistema Cantareira (40,5%) é semelhante à situação de dezembro do ano anterior. Em um cenário hipotético de chuvas na média climatológica, o modelo hidrológico projeta que este reservatório poderá chegar a março de 2019 em melhor situação quando comparada ao mesmo período de 2018. Os valores médios mensais de vazão neste sistema aumentaram em relação aos meses anteriores. Ainda assim, o modelo indica que vazão ficará abaixo da média no decorrer do próximo trimestre. O mesmo poderá ocorrer na bacia afluente ao reservatório Três Marias, ou seja, as vazões podem apresentar uma situação mais favorável que no mesmo período do ano anterior, porém abaixo da média (55% da MLT). Para a bacia afluente ao reservatório Serra da Mesa, o modelo hidrológico simula vazão próxima a 70% da MLT, situação menos favorável que no trimestre JFM/2018.
As condições de seca de intensidade moderada e severa sofrerão uma atenuação em todo o Brasil, mesmo ocorrendo chuvas 20% abaixo da média climatológica para o trimestre JFM/2019. Nos municípios, com calendário de plantio para o mesmo período, são previstas condições de seca de intensidade normal a fraca quaisquer que sejam os cenários.
IMPACTOS EM HIDROLOGIA
Evolução do Armazenamento no Sistema Cantareira
O Sistema Cantareira – sistema que abastece parte da região metropolitana de São Paulo – atingiu 40,5% de seu volume útil em 05 de dezembro de 2018 (Figura 1), valor inferior ao observado no mesmo período de 2017 (44,3%). Mesmo em um cenário de chuvas dentro da média, o modelo hidrológico PDM/Cemaden[1] projeta que a vazão afluente atingirá valores médios em torno de 15% abaixo da MLT no próximo trimestre. Ainda considerando este mesmo cenário de chuvas, o volume útil armazenado poderá atingir valores em torno de 57% no final do período chuvoso, em 31 de março de 2019. Esta simulação[2] considerou: (i) vazões afluentes simuladas pelo modelo hidrológico PDM/Cemaden; (ii) vazões defluentes para a bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí iguais às médias praticadas entre os anos de 2014 e 2016 (nov-mar = 1,55 m³/s); (iii) vazão de extração para o Elevatório Santa Inês (abastecimento de São Paulo) de acordo com a resolução conjunta ANA/DAEE Nº 925; e (iv) interligação com a bacia do Rio Paraíba do Sul com vazão média de 5,13 m³/s, de acordo com a resolução ANA Nº 1931.
Reservatório de Três Marias, Bacia do Rio São Francisco
A vazão média afluente ao reservatório de Três Marias, no alto São Francisco, atingiu o valor de 674 m³/s, aproximadamente 66% da média para este mês (1014 m3/s). De acordo com as projeções hidrológicas para o período de JFM/2019, apresentadas na Figura 2, em um cenário hipotético de chuvas na média climatológica, a vazão afluente poderá atingir cerca de 55% da média histórica (MLT[3]: 1983-2017).
Reservatório de Serra da Mesa, Sistema Araguaia-Tocantins
Na Região Centro-Oeste, no mês de dezembro, a vazão média afluente ao reservatório de Serra da Mesa, bacia de cabeceira do Rio Tocantins, foi de 757 m³/s, aproximadamente 77% da média histórica para este mês (988 m3/s). Segundo as projeções hidrológicas para o período JFM/2019, apresentadas na Figura 3, em um cenário hipotético de chuvas na média climatológica, a vazão afluente ficará em torno de 70% da média histórica (MLT: 1983-2018).
Figura 2 – Cenários de vazão natural média mensal (m³/s) ao reservatório de Três Marias, de janeiro a abril/2019. | Figura 3 – Cenários de vazão natural média mensal (m³/s) ao reservatório de Serra da Mesa, de janeiro a abril/2019. |
Projeções das Reservas Hídricas de Açudes Monitorados do Semiárido Brasileiro
O reservatório Castanhão (Ceará), o maior da Região Nordeste, operou com 4% de seu volume útil no dia 15 de janeiro de 2019 (Figura 4), situação igualmente crítica quando comparada ao mesmo período de 2018 (2,5%). As projeções indicam que o volume armazenado nesse reservatório poderá atingir cerca de 7,0% de sua capacidade no final de março/2019. Entretanto, esta simulação não considera eventuais armazenamentos em açudes menores na sua bacia de captação, o que pode superestimar a presente simulação. O reservatório Epitácio Pessoa/Boqueirão (Paraíba) operou com 22% de seu volume útil no dia 15 de janeiro de 2019 (Figura 5), situação melhor que no mesmo período de 2017 (9,7%). As projeções indicam que, mantendo-se as extrações atuais e a suspensão dos aportes da transposição do Rio São Francisco, o armazenamento de água diminuirá, podendo chegar a 19% de sua capacidade no final de março de 2019. Ressalta-se que estes cenários podem ser alterados devido a mudanças na vazão da transposição e/ou na extração de água para o abastecimento público. A transposição das águas do rio São Francisco para o Estado da Paraíba, pelo eixo leste, temporariamente suspensa desde abril de 2018 devido a obras que estão sendo realizadas nos reservatórios de Camalaú e Poções, voltou a operar em outubro de 2018, mas ainda sem previsão de chegada das águas ao reservatório Epitácio Pessoa/Boqueirão.
Figura 4 – Projeção da evolução do volume armazenado (%) no reservatório Castanhão para o trimestre JFMA/2019. |
Figura 5 – Projeção da evolução do volume armazenado (%) no reservatório Boqueirão para trimestre JFMA/2019. |
IMPACTOS NA VEGETAÇÃO E AGRICULTURA DE SEQUEIRO
Projeção dos Impactos da Seca em todo o Brasil no Trimestre DJF/2019
Considerando o Índice Integrado de Seca[4] (IIS), espera-se que ocorra uma atenuação das áreas com seca de moderada a severa, mesmo que ocorram chuvas 20% abaixo da média climatológica (Figura 6). Neste cenário, as Regiões Centro-Oeste (principalmente o Estado de Mato Grasso) e Norte (principalmente os Estados de Amazonas e Acre) seriam as mais afetadas, onde a porcentagem de área atingida por seca moderada à excepcional seria de 4,9% e 3,6%, respectivamente. No cenário em que a precipitação acumulada para o próximo trimestre atingisse 20% acima da média climatológica, ocorreria uma atenuação praticamente completa de eventos de seca no Brasil, com áreas afetadas inferiores a 1% por região.
Figura 6 – Cenários de possíveis impactos da seca em todo o Brasil para o trimestre JFM/2019.
Projeção dos Impactos da Seca na Agricultura Familiar de Sequeiro
A produção agrícola no Nordeste do Brasil e norte dos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo (área de atuação da SUDENE) é predominantemente formada por agricultura familiar, sendo a maior parte constituída de plantios em sistema de sequeiro, caracterizada por baixos índices de produtividade. O calendário de plantio está diretamente associado ao início da estação chuvosa em cada sub-região. Entre os meses de janeiro a março, ocorre o período de plantio na área destacada na Figura 7, que inclui parte da Bahia, parte do Maranhão e os Estados da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, de acordo com o calendário do Garantia Safra (Resolução 3, de 5 de Agosto de 2010). Segundo as projeções do Índice Integrado de Seca (IIS) – que considera dados atualizados de sensoriamento remoto e projeções de chuva – para qualquer dos três cenários, os municípios apresentarão condições de seca cuja intensidade poderá ser de normal a fraca.
Figura 7 – Cenários de possíveis impactos da seca na agricultura de sequeiro no trimestre JFM/2019. Os municípios do mapa são os que apresentam calendário de plantio entre os meses de janeiro a março/2019.
NOTAS EXPLICATIVAS
Índice Integrado de Seca (IIS)
O Índice Integrado de Seca (IIS) consiste na combinação do Índice de Precipitação Padronizada (SPI) com o Índice de Suprimento de Água para a Vegetação (VSWI) ou com o Índice de Saúde da Vegetação (VHI), ambos estimados por sensoriamento remoto. O SPI é um índice amplamente utilizado para detectar a seca meteorológica em diversas escalas e pode ser interpretado como o número de desvios padrões nos quais a observação se afasta da média climatológica. O índice negativo representa condições de déficit hídrico, nas quais a precipitação é inferior à média climatológica. O índice positivo representa condições de excesso hídrico, que indicam precipitação superior à média histórica. Para integrar o IIS, o SPI é calculado a partir de dados observacionais de precipitação disponíveis no CEMADEN, no Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e Centros Estaduais de Meteorologia.
Índice de Suprimento de Água para a vegetação (VSWI)
O VSWI é calculado a partir do Índice de Vegetação da Diferença Normalizada (NDVI, sigla em inglês) e da temperatura da superfície, ambos do sensor MODIS a bordo dos satélites Terra e Aqua, disponibilizadas pelo Earth Observing System (EOS/NASA). O VSWI indica condição de seca quando o valor do NDVI é baixo (baixa atividade fotossintética) e a temperatura da vegetação é alta (estresse hídrico). Portanto, o índice é inversamente proporcional ao conteúdo de umidade do solo e fornece uma indicação indireta do suprimento de água para a vegetação.
Índice de Saúde da Vegetação (VHI)
O VHI é calculado a partir do Índice de Condição da Vegetação (VCI) e Índice da Condição da Temperatura (TCI). O VCI é a normalização do NDVI, utilizado para avaliar se a densidade da vegetação está maior ou menor que o normal. O VCI não reflete apenas a variabilidade espacial e temporal da vegetação, mas também permite quantificar o impacto dos eventos extremos na vegetação. O TCI é considerado um indicador de estresse térmico. A umidade do solo é reduzida em um evento de seca, causando estresse térmico na vegetação. O TCI permite identificar mudanças sutis na saúde da vegetação devido a efeitos térmicos. À medida que a seca se intensifica, a umidade do solo é reduzida causando o aumento da temperatura de brilho.
Para a compilação do IIS, os dados de SPIs, na escala 6 meses, e o VSWI ou VHI são reclassificados e compatibilizados de forma que as classes de ambos os índices traduzam as mesmas intensidades de seca, as quais variam de fraca à excepcional. O IIS é calculado na escala mensal e apresentado com diferentes classes para as intensidades de seca.
Coordenador Responsável: José A. Marengo
Revisor Científico desta Edição: José A. Marengo
Colaboradores: Adriana Cuartas, Ana Paula Cunha, Anna Bárbara Coutinho de Melo, Elisângela Broedel, Germano Neto, Karinne Deusdará-Leal, Lidiane Costa, Marcelo Seluchi
1. Os relatórios com informações mais detalhadas sobre a situação atual das principais reservas hídricas e condições de seca em todo o País, bem como as projeções hidrológicas e possíveis cenários de impactos da seca, encontram-se disponíveis e atualizados na Website do Cemaden (https://www2.cemaden.gov.br).
2. As informações/produtos apresentados não podem ser usados para fins comerciais, copiados integral ou parcialmente para a reprodução em meios de divulgação, sem a expressa autorização do Cemaden/MCTIC e dos demais órgãos com os quais o Cemaden mantém parcerias. Os usuários deverão sempre mencionar a fonte das informações/dados da instituição como sendo do Cemaden/MCTIC.
3. Ressaltamos que a geração e a divulgação das informações/produtos consideram critérios de qualidade e consistência dos dados. Registramos, ainda, que os dados da rede de monitoramento de desastres naturais disponibilizados via Mapa Interativo no website do Cemaden não passaram por nenhum tratamento. Logo, poderá haver inconsistências nesses dados.
[1] O PDM/Cemaden é um modelo probabilístico baseado na umidade do solo e utiliza como entradas a precipitação e a evapotranspiração potencial para estimar a vazão.
[2] Para mais informações no que se refere à elaboração das projeções hidrológicas, consultar a Website do Cemaden:
http://www2.cemaden.gov.br/categoria/monitoramento/monitoramento-hidrologico/relatoriocantareira/
[3] A sigla MLT significa Média de Longo Termo ou, em outras palavras, média que representa a situação observada por longo período, geralmente igual ou maior que 30 anos.
[4] Explicações mais detalhadas acerca da metodologia utilizada para o cálculo do Índice Integrado de Seca (IIS) estão descritas no final desta edição.