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Concentração de focos de incêndios florestais associados a desmatamentos na Amazônia são apontados para estratégias de combate ao fogo

Com base nas avaliações da crise do fogo de 2019, na Amazônia brasileira, pesquisadores apresentam informações sobre os níveis alarmantes de ocorrência de queimadas e incêndios florestais  em determinadas regiões do bioma. Mostram as relações entre o fogo, os níveis extremos de desmatamentos e o déficit hídrico, bem como a concentração das anomalias dos focos de fogo. Os estudos mostram que as áreas com maior ocorrência de fogo com padrão de longo prazo (denominado anomalias de incêndio) se concentraram, no ano de 2019, em 45% das áreas desmatadas no mesmo ano.  O objetivo dos estudos é dar subsídios para a elaboração de estratégias de prevenção e combate as queimadas e aos incêndios florestais adequadas e eficientes, a fim de minimizar esses eventos na  Amazônia brasileira.

 

Pesquisadores brasileiros de diversas instituições apontaram, em estudos sobre incêndios na Amazônia brasileira, que o ano de 2019 foi marcado por aumentos anormais na ocorrência mensal de queimadas e incêndios nos estados de Roraima, Amazonas e Acre, atingindo níveis extremos de desmatamento anual, nesse mesmo ano. A ocorrência do fogo nos três anos anteriores, o desmatamento em 2019 e o desmatamento nos cinco anos anteriores foram as variáveis mais relacionadas à ocorrência de queimadas e incêndios em 2019.

Nos estudos, foram avaliados uma série de focos de fogo, desmatamentos e déficit hídrico, que é uma métrica para identificar florestas susceptíveis ao fogo, para o período de 2003 a 2019, bem como os potenciais condutores de ocorrência do fogo em 2019, no bioma da Amazônia, em nível estadual e local.

Em um determinado ano, dentro do período de 2003 a 2019, cerca de um terço das dos incêndios florestais ocorreram até um quilômetro das áreas desmatadas no mesmo ano. Por outro lado, cerca de um terço das áreas desmatadas, em um determinado ano, se estenderam até 500 metros das áreas desmatadas no ano anterior.

Concentração dos focos de calor e desmatamentos

Os pesquisadores argumentaram que comparações temporais do número total de focos fogo para toda a Amazônia omitem níveis alarmantes que ocorrem em  determinadas regiões do bioma, e, portanto,  precisam ser levadas em consideração pelo poder público.

O estudo mostrou, por exemplo, que o número de focos de fogo mensal, em agosto de 2019, foi o maior ocorrido nos  anos sem secas extremas, entre 2003-2019, no estado do Acre, e o maior de toda a série temporal no estado do Amazonas. De forma ainda mais alarmante, durante o ano de 2019, o estado de Roraima teve o maior número de focos de fogo dos últimos 17 anos. Os autores apontam que estes três estados também se diferenciaram dos demais por apresentarem níveis extremos de desmatamento em 2019, com um aumento acentuado nos últimos dois anos.

“Quanto mais pontos de ignição, maior a probabilidade do escape do fogo para a floresta e áreas vizinhas, desencadeando grandes prejuízos socioeconômicos, ambientais e para a saúde da população”, comenta a coautora do estudo, Liana Anderson, pesquisadora  do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) – unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).

O líder do estudo, pesquisador Marcus Silveira, mestrando do Curso de Pós-graduação em Sensoriamento Remoto do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), alerta que merece atenção essa intensificação no processo de conversão de florestas maduras no Acre, Amazonas e Roraima. “Os níveis atualmente considerados acima da média, detectados em 2019, podem indicar uma tendência de aumento da ocorrência de fogo a longo prazo, uma vez que o processo tem efeitos cumulativos.”, afirma Silveira, explicando que isso ocorre porque as áreas desmatadas são queimadas, e, em sua maioria, tornam-se pastagens, utilizando o fogo com frequência.

O pesquisador Celso Silva Junior, coautor do estudo e doutorando do INPE complementa: “O desmatamento na Amazônia leva à fragmentação das florestas remanescentes, criando áreas de borda por onde o fogo – utilizado nas nas áreas de agropecuária adjacente – pode escapar para o interior da floresta. Somado a isso, períodos de seca extrema na região aumentam o risco de incêndios florestais”.

Áreas críticas do bioma amazônico: informação estratégica para ações

Em uma outra abordagem, os pesquisadores dividiram o território do bioma em áreas regulares de 100 quilômetros quadrados para identificar, localmente, as áreas críticas em ocorrência de focos de fogo em 2019. Estas áreas críticas representaram somente 4% da extensão do bioma, mas concentraram mais da metade da área total queimada (no período de seca)  e 45% da área total desmatada no bioma.

O sul do Pará e Amazonas, norte de Rondônia e a parte central de Roraima foram regiões com alta concentração das áreas críticas com focos de calor. Segundo a pesquisadora Liana Anderson, este tipo de informação estratégica deve ser usado de forma inteligente pelos órgãos responsáveis: “Apesar do tamanho de nossa Amazônia, a integração de dados e métodos científicos nos permite identificar onde e quando agir para reverter a situação da crise ambiental que o País enfrenta.”

A pesquisa mostra que um total de 14 variáveis, antrópicas e ecológicas, as variáveis mais relacionadas com a ocorrência do fogo em 2019, independente da escala de estudo, foram o número de focos de de fogo nos três anos anteriores, o desmatamento no próprio ano, e o desmatamento nos cinco anos anteriores.

As áreas com ocorrência de focos de fogo acima da média tiveram cerca de três vezes mais focos nos três anos anteriores, seis vezes mais desmatamento em 2019 e cinco vezes mais desmatamento nos cinco anos anteriores, do que as áreas onde a ocorrência de focos de fogo não foi anormal. Para o lider do estudo, Marcus Silveira, esta pode ser uma receita prática para identificar locais estratégicos para ações nos próximos anos.

Pesquisadores fazem recomendações para a alocação de brigadas de incêndios na Amazônia 

Para os pesquisadores, existe pouca informação disponível sobre as estratégias utilizadas por iniciativas de combate a incêndios para a alocação de brigadistas. O Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais – Prevfogo – prioriza brigadistas para os municípios com o maior número de focos de calor nos quatro anos anteriores. Segundo os pesquisadores, no entanto, essa estratégia tem vulnerabilidades. O estudo em questão revelou que o problema da crise de queimadas na Amazônia é na verdade bastante localizado, o que pode facilitar o trabalho de alocação dos brigadistas, corpo de bombeiro, batalhão de policiamento ambiental, defesa civil e outros órgãos de resposta.

No estudo, conclui-se que a forte relação do fogo com o desmatamento como fator crítico deve ser  considerado para aumentar a eficiência da alocação de brigadas. Destaca-se, ainda, que um terço dos focos de fogo entre 2003-2019 ocorreram até 1 km de distância de áreas desmatadas no mesmo ano. Dessa forma, o planejamento do combate as queimadas e incêndios pode ser feito com meses de antecedência tendo como base as áreas com alta intensidade de alertas de desmatamento.

O artigo intitulado “Drivers of fire anomalies in the Brazilian Amazon: lessons learned from the 2019 fire crisis” ,(Condutores de Anomalias de Fogo na Amazônia Brasileira: lições aprendidas com a crise do fogo de 2019), pode ser conferido na íntegra no link: https://www.mdpi.com/2073-445X/9/12/516.

Fonte: Ascom/Cemaden

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