Um estudo recente divulgado na edição especial da renomada revista Remote Sensing, intitulado “Translating Fire Impacts in Southwestern Amazonia into Economic Costs ” (Traduzindo os Impactos do Fogo no Sudoeste da Amazônia em Custos Econômicos), apontou que, no período de 2008 a 2012, o Estado do Acre acumulou uma perda de R$ 981,08 milhões, provocada pelos incêndios florestais. Isso equivale a 9% do PIB estadual. As reservas extrativistas são as que tiveram mais registros de incêndios florestais nesse período.
O estudo faz parte de projetos que visam monitorar, quantificar e mensurar os impactos dos incêndios florestais para a região, como o MAP-Fire e Acre Queimadas, que contam com a participação de pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE), da Universidade Federal do Acre e da Universidade Federal do ABC, além de outras instituições internacionais.
Segundo os pesquisadores, o trabalho científico – assim como outros estudos ao longo da última década – demonstra que em anos de eventos de secas extremas, (como, por exemplo, o do ano de 2010), associados ao aquecimento incomum do Oceano Atlântico, provocaram o aumento de mil km² de florestas queimadas na região, comparado aos anos com regime de chuva dentro da média histórica.
A pesquisa aponta que as áreas queimadas nos anos de 2008, 2009, 2011 e 2012 no Acre, foram em média de 130 km², enquanto para o ano de 2010 este valor está na ordem de 2 mil km². A distribuição espacial das áreas queimadas indica que a região mais impactada, significativamente, encontra-se no entorno do município de Rio Branco.
A pesquisadora Liana Anderson, do Cemaden – uma das autoras dos estudos e orientadora de Wesley Campanharo, estudante de Doutorado do INPE, que liderou o estudo – explica que os impactos socioeconômicos e ambientais quantificados no estudo podem ser considerados subestimados.
“Isto ocorre porque não foram avaliados todos os impactos diretos e indiretos dos incêndios florestais, como por exemplo, a perda de serviços ecossistêmicos destas florestas ( como biodiversidade) e a oferta de produtos florestais das comunidades que exploram estes recursos ( como castanha e óleos vegetais)”, afirma Anderson.
Áreas queimadas em áreas particulares, unidades de conservação e territórios indígenas
Os autores separaram o impacto por “domínio da área”, ou seja, qual é a responsabilidade gestora da área, ou de órgãos públicos ou de propriedades privadas. Os resultados demonstraram que mais de 98% das áreas que sofreram incêndios florestais são de responsabilidade da sociedade civil, ou seja, propriedades privadas, onde as grandes propriedades se destacam com mais de 52% das áreas queimadas.
O pesquisador Wesley Campanharo destaca que, em média, os minifúndios apresentaram 32% de registros de queimada. Além disso, foram registradas queimadas em áreas de proteção permanente e de reserva legal. Informa que, por outro lado, o estudo não aponta se estas áreas queimadas foram convertidas em uso agrícola ou outro uso, sendo esta identificação a próxima etapa da pesquisa em andamento.
Ainda, segundo o autor, áreas de domínio da União representam em média 2% do total de áreas queimadas. Em relação aos Territórios Indígenas, 31 comunidades no estado foram afetadas entre 2008 e 2012. A comunidade Mamoadate apresentou a maior área queimada em 2010 (cerca de 11,20 km²) sendo o único território indígena que queimou duas vezes seguidas.
Reserva Extrativista traz maior área de incêndios florestais
As Unidades de Conservação do tipo “Reserva Extrativista” (RESEX) foram as que apresentaram a maior área queimada. A RESEX Chico Mendes foi a que teve registro de maiores áreas queimadas ao longo dos anos estudados. Estas áreas foram fortemente impactadas pelos incêndios florestais em 2008, 2010 e 2011. O do ano de 2010 foi o mais significativo: cerca de 35 km², o que corresponde a 0,4% da RESEX.
A Unidade de Conservação permite que populações tradicionais exerçam atividades baseadas no extrativismo, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte. Estas atividades podem necessitar da utilização do fogo como opção mais barata e acessível dentro de alguma técnica de manejo agrícola. Entretanto, os pesquisadores alertam que devem seguir as orientações estabelecidas em Plano de Manejo, além de tomar precauções e seguir orientações técnicas de uso, para que não saiam de controle.
O artigo completo pode ser acessado pelo endereço:
https://www.mdpi.com/2072-4292/11/7/764
(Fonte: Ascom/Cemaden)