Os estudos do Projeto Metropole, apresentados, em Santos (SP), demonstram que as cidades costeiras já estão expostas a tempestades, erosão e intrusão de água salgada. Há uma tendência das alterações climáticas e a subida do nível do mar intensificarem esses riscos, conforme pesquisa coordenada pelo climatologista José Marengo, do Cemaden. As pesquisas orientam a implementação de medidas para a gestão de adaptação das cidades litorâneas.
Pesquisadores brasileiros, norte-americanos e ingleses vem desenvolvendo, desde 2013, estudos sobre adaptação às mudanças climáticas em áreas costeiras. Com iniciativa internacional, o Projeto Metropole diagnosticou os impactos da elevação da maré nas cidades de Santos (estado de São Paulo), Broward, nos Estados Unidos e Selsey, na Inglaterra.
Os dados da pesquisa fazem projeções dos impactos associados à elevação da temperatura oceânica e chuvas extremas, além do aumento do nível do mar e aumento na frequência e na intensidade das tempestades. Esses fatores podem gerar deslizamentos de terra, enchentes urbanas e contaminação das águas subterrâneas. Na situação atual, as áreas suscetíveis à inundação já apresentam problemas de drenagem.
Na cidade de Santos, no litoral paulista, os estudos projetam que as mudanças climáticas provocarão a subida do nível do mar em pelo menos 18 centímetros até 2050, podendo chegar até 45 centímetros em 2100. Essa elevação do nível do mar poderá chegar a dois metros, durante a ocorrência de marés altas, tempestades e as ressacas, conforme explicou o pesquisador- coordenador do Projeto Metropole, José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) – do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
“As adaptações serão necessárias, não há como escapar. E não estamos falando sobre mudanças do clima em um futuro distante – é preciso entrar em ação agora.”, afirmou o pesquisador Marengo, durante a apresentação dos resultados finais dos estudos, no último dia 17, em Santos, enfatizando que as projeções indicam que se nenhuma obra for feita, apenas com os danos aos imóveis, o município terá um prejuízo de, no mínimo, R$ 1,5 bilhão até o fim do século.
Medidas para evitar ou minimizar os impactos
Entre as medidas estratégicas indicadas às cidades costeiras para a gestão da adaptação estão o monitoramento da mudança do clima e as avaliações dos desastres socioambientais, para adequar a situação das mudanças ocasionadas ao longo do tempo.
“A implementação de medidas de adaptação trará benefícios ao ambiente construído, aos ecossistemas e aos sistemas humanos dessas cidades litorâneas.”, afirma José Marengo. O pesquisador explica que entre as análises para a gestão dessas cidades estão o aumento da urbanização e a influência nas alterações climáticas, a qualidade do ar, a disponibilidade da água, o uso da terra e a gestão de resíduos.
O trabalho científico aponta dois caminhos para a preparação e diminuição dos impactos das mudanças climáticas nas áreas costeiras : as medidas proativas e planejadas para preservar e proteger os recursos – antecipando-se aos impactos (adaptação planejada)- e as medidas reativas/emergenciais, implementadas após o impacto das mudanças climáticas.
A pesquisa aponta que os eventos climáticos extremos podem ser especialmente perturbadores para sistemas urbanos complexos, porque grande parte da população urbana do mundo vive em áreas costeiras baixas.
O pesquisador Marengo enfatiza que as conferências científicas sobre o projeto, as discussões com a população e os tomadores de decisões sempre foram realizadas no contexto de informes de estudos científicos, não com o objetivo de tornar-se uma pesquisa alarmista e com teor catastrófico. “As projeções mostram o que pode acontecer se nada for feito. O projeto de pesquisa não deve ser interpretado como anúncio do ‘ fim do mundo’. A Ciência deve fornecer evidências fortes para tomadas de decisões e não gerar pânico.”, finaliza o pesquisador.
Atualmente, metade da população mundial vive em cidades. Grande parte da indústria mundial também se concentra nas áreas urbanas. Em 2050, mais de 70% da população – 6,4 bilhões de pessoas – é projetada para viver em áreas urbanas.
Projeto Metropole
O Projeto Metropole (sigla em Inglês) é a identificação para denominar a pesquisa intitulada “Uma estrutura integrada para analisar tomada de decisão local e capacidade adaptativa para mudança ambiental de grande escala: estudos de caso de comunidades no Brasil, Reino Unido e Estados Unidos”. De iniciativa internacional, a pesquisa diagnosticou os impactos da elevação da maré em Santos (SP), Broward, nos Estados Unidos, e Selsey, na Inglaterra.
No Brasil, o projeto vem sendo desenvolvido desde o ano de 2013, por uma equipe científica nacional e internacional, composta por pesquisadores das instituições brasileiras : do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden); do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE); da Universidade de São Paulo (USP); da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Instituto Geológico de São Paulo (IG) e a Prefeitura de Santos. Das instituições internacionais, são integrantes do projeto os pesquisadores da University of South Florida, dos Estados Unidos e da Kings College of London , da Inglaterra.
O projeto de pesquisa é uma coprodução entre a comunidade científica, os tomadores de decisões e a população. Santos foi escolhida para o projeto, segundo Marengo, porque tem os dados mais completos sobre variações de marés e o georreferenciamento mais preciso entre as cidades litorâneas. Os métodos utilizados podem ser replicados em qualquer cidade da costa brasileira.
A pesquisa aplicada desenvolvida nos últimos 4 anos faz uma avaliação conjunta sobre possíveis impactos da elevação do nível do mar, extremos de chuva e tempestades na frequência e intensidade das inundações costeiras, que afetam a Ponta da Praia, no município de Santos. Segundo os dados científicos, estes impactos podem aumentar no futuro.