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Pesquisador do Cemaden recebe prêmio internacional pelo trabalho científico focando a participação da comunidade atingida por desastre

Valorizar a participação ativa dos atores locais atingidos por desastres permite maior eficácia na reconstrução das cidades e recuperação social em longo prazo. Esse é o foco da abordagem do artigo do pesquisador Victor Marchezini, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), que recebeu o prêmio Emerald Literati Awards (#literatiawards) pela publicação do artigo “The power of localism during the long-term disaster recovery process” (“O poder da esfera local durante o processo de recuperação de longo prazo frente a desastres”), no jornal científico Disaster Prevention and Management: An International Journal, criado em 1992. O artigo fez parte de um número especial sobre “repensando as estratégias de prevenção de desastres a partir de novas formas de conhecimento e aprendizagem”, e trouxe onze experiências internacionais no tema.

O artigo científico analisou algumas barreiras e os desafios dos  “impulsionadores do localismo” durante o processo de recuperação de desastres em longo prazo.  O trabalho científico, realizado de janeiro de 2010 a junho de 2013, no município paulista de São Luiz do Paraitinga – região do Vale do Paraíba, a 187 km de São Paulo –  consistiu na análise dos discursos e práticas dos agentes que atuaram no desastre e dos moradores atingidos pela grande inundação, que chegou até 12 metros acima do nível do Rio Paraitinga. Mostrou os desafios enfrentados por esses moradores para a recuperação do desastre, tanto na parte material como na emocional.

“Será que realmente estamos escutando as reais necessidades de quem vivencia localmente os desastres?” A partir dessa pergunta, o pesquisador Victor Marchezini iniciou sua pesquisa (em parte com bolsa de pesquisa de doutorado concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de SP- Fapesp)  com relatos de moradores e gestores públicos, mostrando o lado emocional dos impactos sofridos, bem como alguns conflitos de ações e comunicação entre os moradores e agentes públicos externos.

“Esse desastre, que completará 10 anos em janeiro de 2020, permite realizar análises sobre as relações dos atores locais e externos durante as fases de monitoramento e alerta, resposta à emergência em decorrência da inundação, e de reconstrução e recuperação social frente ao que chamamos desastre.” destaca o pesquisador, que considera o desastre como a vivência de uma situação de crise coletiva, em razão das perdas materiais e imateriais, como estabelecimentos religiosos, escolas, Prefeitura, agências bancárias, Prefeitura, cartórios e bens tombados, que foram diretamente atingidos. Destacou as ações da Defesa Civil local, da liderança comunitária, da rápida organização dos moradores,  dos praticantes de “rafting” que resgataram mais de 400 pessoas atingidas pelas inundações, entre outros.

Marchezini relembra que São Luiz do Paraitinga teve exemplos muito interessantes de inovação social, durante o processo de reconstrução e recuperação, como a criação do Centro de Reconstrução Sustentável de São Luiz do Paraitinga (Ceresta), que permitia o diálogo entre instituições públicas dos três níveis de governo, universidades, ONGs, representantes da sociedade civil, entre outras. “É preciso promover esse diálogo para que novas gerações conheçam a história dos desastres e estejam preparadas para lidar com  eventos extremos de inundações e secas, assim como busquem formas de desenvolver sua capacidade de auto-proteção. Quem serão os ‘anjos do rafting’ do futuro?”, questiona o pesquisador, que também faz parte do Projeto Cemaden Educação, que teve São Luiz do Paraitinga como um dos seus estudos de caso. 

“Investir nas pessoas é essencial para ações de prevenção”

Marchezini relata um estudo, realizado em 2012, que estimou o montante de perdas e danos, em São Luiz do Paraitinga, em R$ 103,63 milhões, sem contar as perdas e impactos ao longo do tempo, no decorrer do processo de reconstrução e recuperação social. “Investir nas pessoas é essencial para ações de prevenção e a ciência inter e transdisciplinar pode colaborar com os gestores públicos e sociedade civil nesse desafio.”, afirma o pesquisador.

O cientista relembra que é preciso investir em prevenção para reduzir as perdas humanas e materiais. “Do total de 5.570 municípios existentes no Brasil, pouco mais de três mil deles (mais da metade dos existentes no País) declararam Situação de Emergência ou Estado de Calamidade Pública no período 2013-2017. É com esse cenário que o recém-criado Programa de Pós-Graduação em Desastres (ICT/Unesp-Cemaden) vai ter de lidar, com muitos desafios pela frente que requerem alguns investimentos em bolsas de pesquisa para formação de recursos humanos que ajudem a reduzir esse quadro preocupante que historicamente vem se constituindo”, alerta o pesquisador, que estuda o tema dos desastres desde 2004.

Premiação e outras experiências internacionais

Por mais de 25 anos, o Emerald Literati Awards incluiu os Prêmios e Citações de Excelência, mostrando as contribuições dos autores de trabalhos científicos internacionais. Além do artigo sobre o caso brasileiro, o número especial sobre “repensando as estratégias de prevenção de desastres a partir de novas formas de conhecimento e aprendizagem” trouxe outras dez experiências internacionais de vivência de desastres na linha de frente, como os casos de Kiribati, Filipinas, Paquistão, Vietnã, Índia, Camarões, Nepal, Porto Rico, Peru. 

O artigo completo “O poder da esfera local durante o processo de recuperação de longo prazo frente a desastres” está disponibilizado gratuitamente no endereço: https://www.emeraldinsight.com/doi/full/10.1108/DPM-05-2018-0150

Para acessar os artigos premiados :

http://www.emeraldgrouppublishing.com/authors/literati/awards.htm?year=2019

(Fonte: Ascom Cemaden)

 

 

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