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Pesquisadores destacam as parcerias para a gestão de risco e impactos de queimadas e incêndios florestais na tríplice fronteira da Amazônia

Com o aprimoramento e a nova versão da Plataforma de Gestão do Risco e de Impactos de Queimadas e Incêndios Florestais (Plataforma MAP-Fire), cientistas brasileiros, peruanos e bolivianos estão ampliando as parcerias para o monitoramento e análises de dados das queimadas e incêndios florestais, na região da tríplice fronteira da Amazônia sul-ocidental. Essa área monitorada engloba a região de Madre de Dios (Peru), o Estado do Acre (Brasil) e a região de Pando (Bolívia), regiões representadas pela sigla “MAP”, que dá nome à plataforma.

O objetivo da atuação conjunta dos cientistas no monitoramento da região da tríplice fronteira da Amazônia sul-ocidental é realizar análises de dados para entender e modelar os processos e impactos das mudanças ambientais e climáticas, dentro dos padrões de ocorrência de fogo na Amazônia sul-ocidental. O trabalho também possibilita fornecer informações para subsídios a ações de políticas públicas dos três países, na gestão e prevenção de impactos socioambientais e econômicos, provocados pelas queimadas e incêndios nessa região.

O desenvolvimento da Plataforma MAP-Fire é resultado de uma parceria científica entre o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) – ambas unidades de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) –  em colaboração com instituições da região MAP:  a Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Acre;  UFAC no Brasil;  Universidad Amazônica de Pando (UAP); PRODIGY e CIPCA, na Bolívia; e no Peru a Conservation International (Cincia)

A pesquisadora Liana Anderson, do Cemaden,  líder do projeto MAP-Fire,   explica que a plataforma vem sendo aprimorada desde 2019, considerada essencial não só para melhorar o entendimento do risco de desastres associados ao fogo na região MAP, mas também para planejar ações de mitigação e combate a estes eventos de forma estruturada. “Todos os atores, como cientistas, comunidades, equipes de resposta e órgãos gestores podem ter acesso ao mesmo cenário em tempo real.”, afirma a pesquisadora,

Desenvolvedor da Plataforma MAP-Fire, o pesquisador do Cemaden, João dos Reis, informa que novos dados e análises estão previstos para serem incorporados na plataforma, visando subsidiar a quantificação dos impactos do fogo. “Iremos inserir os dados de monitoramento da qualidade do ar e estatísticas sobre as áreas afetadas pelo fogo.”, afirma o pesquisador complementando que a parceria entre o INPE e o Cemaden foram fundamentais para o desenvolvimento da plataforma, assim como sua constante atualização e evolução.

O pesquisador Eymar Lopes, do INPE, coordenador de desenvolvimento do TerraMA² (plataforma computacional para aplicações de monitoramento, análise e alertas de extremos ambientais – base para a Plataforma MAP-Fire), ressaltou a importância da ferramenta e de suas aplicações: “O TerraMA² integra, em tempo real, dados ambientais de observação de satélites, radares e estações meteorológicas ou de previsão numérica de tempo, com dados resultantes de mapeamentos de riscos e outros”. Destaca que o sistema do TerraMA² tem a facilidade de envio de dados e informações em formato digital.

Para Alan Pimentel, técnico da Sala de Situação da Secretaria do Meio Ambiente do Acre, até o ano de 2019, ressalta sobre a importância da utilização dessa plataforma em cada estado ou departamentos dos países vizinho para o alerta local. “Essa redundância de monitoramento e acréscimos de informações garantem o monitoramento contínuo, principalmente em períodos críticos”, afirma Pimentel. O pesquisador destaca que o reconhecimento dos bons resultados na aplicação da plataforma ocorreu no Fórum Mundial da Água, em 2017, quando o Projeto “Amazonas: Ação Regional na Área de Recursos Hídricos” foi selecionado como iniciativa exitosa para a gestão de recursos hídricos nos países membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), envolvendo diversos países da América do Sul.

O pesquisador do INPE, Luiz Aragão, um dos coordenadores do projeto MAP-Fire comenta que “esta plataforma sela o esforço de quase 10 anos do corpo técnico do Estado do Acre, liderado pela pesquisadora Vera Reis (SEMA), em instrumentar o estado com as mais modernas tecnologias, baseadas em ciência de ponta, para a gestão de risco de desastres, especialmente o fogo”. Aragão conclui que o conhecimento contido na plataforma deriva de quase 20 anos de estudos, consolidados nos mais renomados periódicos internacionais, que permitiram o entendimento claro dos processos e impactos de queimadas e como estas interagem com clima e os seres humanos. “As parcerias entre universidades e governos estaduais são essenciais para o sucesso das iniciativas.”, destaca Aragão.

Pesquisas e monitoramento no lado do Peru e Bolívia utilizando a Plataforma MAP-Fire 

Para a pesquisadora peruana Marta Torres – coordenadora de Educação e Impactos Sociais da Center for Amazonian Scientific Innovation (CINCIA, Peru) e colaboradora do projeto MAP-Fire – a queima de pastagens, as queimas agrícolas e a abertura de florestas para preparar a terra,  por meio do uso do fogo, não são eventos isolados, mas ações associadas às práticas de manejo errôneas, fortemente enraizadas nas populações amazônicas. Explica que essas ações são programadas e obedecem uma sazonalidade guiada pelos atores locais. “Isolados, esses eventos não teriam impacto significativo no território. No entanto, o impacto das queimadas assume grandes dimensões e gera fortes impactos, degradando o ecossistema amazônico, afetando significativamente a qualidade do ar. Isso pode se tornar um evento de tal magnitude que ultrapassa fronteiras, como observado nos últimos dois anos”, comenta a pesquisadora peruana. “A  facilidade de ter informação com dados abertos e em tempo real, constitui uma ferramenta de gestão para os países abordarem problemas comuns, que requerem abordagens simultâneas e coordenadas para alcançar soluções reais” finaliza Torres.

Do lado da Bolívia, a pesquisadora do projeto MAP-Fire, Galia Selaya,  explica que nos últimos 10 anos, a Bolívia tem sofrido com grandes extensões de queimadas e incêndios florestais. A região de Pando, monitorada pela Plataforma MAP-Fire, está entre as regiões com maiores áreas de florestas protegidas, É o sexto local com maior número de ocorrências de fogo no país,  o que gera uma ameaça à base econômica local, que depende da exploração da castanha e açaí. “Ter a plataforma de monitoramento é um passo importante para subsidiar ações, tanto de planejamento para prevenção de incêndios florestais, quanto para planejar estratégias de mitigação em áreas onde o fogo é recorrente”, comenta a pesquisadora boliviana, ressaltando a importância da sociedade civil contar com uma fonte independente de dados e informações.

Facilidade para acesso ao conhecimento científico : vídeo e banner orientam acesso à Plataforma MAP-Fire 

Um treinamento focado na comunicação de resultados de pesquisa, com  workshop na linha “Tradução do Conhecimento” (Knowledge Translation), realizados pela consultoria EasyTelling – especializada em  traduzir qualquer conteúdo técnico, científico ou complexo para uma linguagem fácil e compreensível a todos os públicos – selecionou onze projetos elaborados pelos pesquisadores participantes. Na segunda etapa, foram selecionados dois projetos para serem acelerados na temática de apresentação de resultados dos trabalhos de pesquisa, com linguagem acessível e de compreensão para o público em geral. Um desses projetos foi a Plataforma MAP-Fire e outro, um  projeto de pesquisa que investigou as causas de mortandade de peixes por hidrelétricas.

“Durante a aceleração, mapeamos quais eram os principais usuários da plataforma (audiências) para entender suas necessidades práticas e criar materiais de comunicação, especialmente, voltados para ajudá-los a utilizar a MAP-Fire, na mitigacao dos impactos do fogo na Amazônia”, afirma Maria Paola de Salvo, fundadora da EasyTelling.

O vídeo explicativo sobre como utilizar a plataforma e o banner para sua disseminação on-line, por meio de mídias sociais, foram criados justamente para ampliar o uso das informações da Plataforma MAP-Fire. O objetivo é facilitar o acesso aos dados e informações inseridas na plataforma pelo público em geral. Isso amplia a disseminação do conhecimento,  minimizando os riscos e impactos causados pelo fogo e gerando mais benefícios para a sociedade.

O vídeo orientando como utilizar e acessar as informações da Plataforma MAP-Fire  está disponibilizado no link :  https://youtu.be/n6ZoBoSEmnA

Perspectivas de ampliar parcerias em outros projetos

Baseando-se nesta experiência de parcerias com pesquisadores de diversos projetos e regiões, a pesquisadora do Cemaden, Liana Anderson, comenta que tem ainda mais planos ampliar as parcerias e realizar o co-desenvolvimento da plataforma para auxiliar a gestão do risco e dos impactos do fogo em outros locais. Segundo a pesquisadora, existem outras iniciativas em andamento: “Estamos desenvolvendo algo similar para a auxiliar a gestão do fogo nas Unidades de Conservação FLONA Tapajós e RESEX Tapajós-Arapiuns, em parceria com o projeto SEM-FLAMA, liderado pela pesquisadora Joice Ferreira da EMBRAPA e uma simplificação para ser utilizada no contexto escolar, em parceria com a pesquisadora Silvia Saito, do Cemaden”.

A Plataforma MAP-Fire é resultado de investimento do Cemaden/CNPq e do Interamerican Institute for Global Change Research (IAI), em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Para acessar a Plataforma MAP-Fire :

http://terrama.cemaden.gov.br/griif/mapfire/monitor/

  

Fonte: Ascom/Cemaden

 

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