Pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) – que trabalham na linha de educação para a prevenção de riscos de desastres socioambientais – publicaram um artigo científico, analisando os obstáculos e as medidas necessárias para um sistema de alerta efetivo e eficaz para a prevenção de risco de desastres, centrado nas pessoas e participativo.
O artigo intitulado “Participatory Early Warning Systems: Youth, Citizen Science, and Intergenerational Dialogues on Disaster Risk Reduction in Brazil” (Sistema de Alerta Participativo: Juventude, Ciência Cidadã e Diálogos Intergeracionais sobre a Redução de Risco de Desastres no Brasil) – publicado no International Journal of Disaster Risk Science, da Editora Springer – destaca algumas diretrizes e ações que podem ser aplicadas para reduzir a vulnerabilidade institucional do sistema nacional de alerta, com base em experiências que buscam envolver ativamente as pessoas nos quatro eixos de um sistema, indo além do papel na fase final da cadeia do alerta, como receptores de mensagens via SMS (Short Message Service). O artigo está disponibilizado gratuitamente no link https://link.springer.com/article/10.1007/s13753-017-0150-9
O projeto participativo desenvolvido pelo Cemaden Educação envolve a comunidade escolar, a Defesa Civil e a população em metodologias para alcançar os quatro elementos do sistema de alerta antecipado (EWS, sigla em Inglês) : conhecimento de risco, monitoramento, comunicação de alertas e capacidade de resposta. Estas metodologias são construídas considerando as diretrizes dos currículos escolares, uma medida estruturante que pode fomentar a auto-proteção e a cultura de prevenção para as atuais e futuras gerações, mesmo em municípios cujos prefeitos ainda não tenham criado defesa civil.
“A criação de sistemas de alerta centrados nas pessoas é fortemente recomendada pela Estratégia Internacional das Nações Unidas para a Redução de Desastres (UNISDR) desde a adoção, em 2005, do Marco de Ação de Hyogo e, em 2015, foi reafirmada no Marco de Ação de Sendai para a Redução de Risco de Desastres (RRD).”, destaca o pesquisador do Cemaden, sociólogo Victor Marchezini, ao explicar que grande parte da literatura científica no tema critica a tendência dos sistemas nacionais de alerta darem mais atenção às características tecnológicas, deixando em segundo plano a atenção para os fatores humanos.
Na abordagem do sistema centrado nas pessoas, explica o pesquisador, os planejadores do sistema devem estar cientes das diferentes formas e graus de vulnerabilidade e capacidade de diferentes grupos sociais (crianças, jovens, idosos, pessoas com deficiência, refugiados, grupos que venham a ser discriminados em razão de suas características sociais, étnicas, de raça, gênero e assim por diante).
“Diferentes dados, informações, formas de conhecimento e sabedoria devem ser reconhecidas e compartilhadas entre especialistas, formuladores de políticas, profissionais e grupos sociais. O sistema de alerta também deve levar em consideração dimensões e características sociais como dinâmicas demográficas induzidas por fatores econômicos, políticas e ambientais, capacidades institucionais, estratégias de resiliência, cultura e o meio de subsistência dos diferentes territórios que estão sob risco de desastres”, enfatiza o pesquisador.
Cemaden Educação e o envolvimento do jovem no sistema de alerta participativo
Pela experiência e as ações desenvolvidas, em quase quatro anos, pelo projeto do Cemaden Educação- iniciado nos municípios paulistas de São Luiz do Paraitinga e de Cunha, e em expansão nas escolas, em todo o território nacional – o estudo cita o desafio de “integrar” os dados, informações e conhecimentos produzidos pelo “cientista-cidadão” no aumento da eficácia dos sistemas de alertas participativos, na difícil tarefa de reduzir perdas de vidas e de danos materiais. Combinar o sistema de alerta (EWS) com o setor educacional é uma estratégia de RRD (redução do risco de desastres) de longo prazo, importante para fortalecer as capacidades institucionais e sociais para lidar com riscos e desastres. Diversos estudos destacaram o valor potencial da ciência cidadã e do crowdsourcing para observações ambientais.
Os estudos dos pesquisadores mostram que, embora os jovens representem entre 50% e 60% dos afetados por desastres (Fundo das Nações Unidas para a Infância de 2012), poucos estudos abordaram como a juventude pode estar envolvida no sistema de alerta. As necessidades, a experiência, a aprendizagem e o conhecimento dos jovens são geralmente negligenciados, porque eles não ocupam posições de poder para definir a agenda da pesquisa e não estão em posições políticas ou profissionais relevantes para impulsionar essa importante agenda.
De acordo com o Ministério da Educação, o Brasil tem ao menos 125 mil escolas em 5.570 municípios. Atualmente, o Cemaden monitora 958 municípios, onde 721 escolas estão em áreas propensas a inundações – 172 delas em municípios monitorados pelo Cemaden no estado de São Paulo. No entanto, ainda não há uma forte articulação entre o sistema de alerta de risco de desastres e o setor educacional. A fase piloto do projeto educacional (Cemaden Educação), na bacia do Rio Paraitinga, teve como objetivo construir uma metodologia participativa para preencher parte dessa lacuna, a fim de fornecer diretrizes para expandir o projeto para outras escolas do ensino médio no Brasil, usando a plataforma de e-learning.
Dentro das atividades do Cemaden Educação, está aberta a 3ª edição da Campanha #AprenderParaPrevenir, para o registro das ações, atividades e projetos desenvolvidos na área ambiental e de prevenção de riscos de desastres pelas comunidades escolares, Defesas Civis e universidades. As inscrições poderão ser realizadas até o dia 01 de outubro de 2018, no site : http://educacao.cemaden.gov.br/aprenderparaprevenir2018.
(Fonte: Ascom-Cemaden)