A publicação internacional “State of the Climate”, resumo anual oficial sobre o Clima Global no ano de 2019, e suplemento ao Boletim da Sociedade Meteorológica Americana (EUA) – elaborado com base nas informações de cientistas de todo o mundo – teve a contribuição de três pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
No capítulo “Climas Regionais”, na parte sobre a região central da América do Sul e sobre queimadas e clima no sul da Amazônia, contribuíram com informações, indicadores e eventos climáticos os pesquisadores do Cemaden : climatologista José Marengo (coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento), Ana Paula Cunha e Elisângela Broedel, da área de pesquisa sobre secas no semiárido brasileiro e queimadas.
Na publicação, o capítulo “Climas Regionais” fornece resumos das condições de temperatura e precipitação de 2019, em sete grandes regiões: América do Norte, América Central e Caribe, América do Sul, África, Europa, Ásia e Oceania. Na maioria dos casos, estão incluídos, também, os resumos de eventos climáticos mais destacados nas regiões.
Na parte abordada da região central da América do Sul, com os dados coordenados pelo pesquisador José Marengo, as temperaturas médias anuais da região central da América do Sul ficaram acima do normal durante o ano de 2019. “O calor mais intenso foi observado em grande parte do Sudeste do Brasil, onde as anomalias de temperatura foram de pelo menos mais 1º C, principalmente, nos meses de janeiro, fevereiro, junho e no período de setembro a dezembro”, informa Marengo.
Ainda, na parte central da América do Sul, a precipitação anual foi variável em toda a região: condições mais úmidas do que o normal em grande parte do Peru e partes do norte do Brasil. Na metade sul do Brasil e da Bolívia ficaram mais secos do que o normal.
“Durante o verão de 2019, no Hemisfério Sul, ocorreram seis episódios da Zona de Convergência do Atlântico Sul, contribuindo para condições, excepcionalmente úmidas, na segunda quinzena de janeiro e fevereiro, na Bolívia, Peru e leste dos Andes.”, afirma Marengo, explicando que a Zona de Convergência Intertropical do Atlântico foi ativa em março de 2019, produzindo chuvas intensas no Nordeste do Brasil.
Após sete anos de seca, a região semiárida do Nordeste do Brasil registrou chuvas quase normais, durante o período de novembro de 2018 a abril de 2019. “Mas, ainda assim, os déficits hidrológicos persistiram na maior parte da região. Em novembro e dezembro de 2019, a seca no semiárido nordestino brasileiro variou de severa a extrema, principalmente nos estados do Piauí e Bahia, e no Sul do Brasil.”, complementa o pesquisador.
Impactos do clima em 2019 no Brasil e região central da América do Sul
No Brasil, vários episódios de chuvas intensas ocorreram durante o verão e o outono de 2019, produzindo enchentes e deslizamentos de terra que afetaram residências e bloquearam estradas. Em fevereiro, ocorreram chuvas intensas em São Paulo, mês mais chuvoso registrado em 15 anos (137% acima do normal). No Rio de Janeiro, fevereiro e abril também registraram chuvas acima do normal mensal, provocando deslizamentos. Os municípios de Santos (SP) e Recife (PE) também tiveram registros de chuvas em horas, que totalizavam metade do normal mensal.
As temperaturas também tiveram variações extremas na região central da América do Sul. Em alguns lugares, a temperatura ficou acima de 5º C a 8º C. O calor atingiu temperaturas máximas registradas no final de janeiro de 2019, com temperaturas médias acima do normal em 1,5º C a 2,5º C (sudeste da Bolívia e Paraguai, costa norte do Peru e no Centro-Oeste e Sudeste do Brasil).
Sobre incêndios florestais, em 2019, os registros em número superaram, significativamente, os registrados nos últimos quatro anos.Foram queimadas vastas áreas da região sul da Amazônia e norte do Paraguai. De acordo com o Projeto de Monitoramento da Amazônia Andina (MAAP 2019), os incêndios e queimadas ocorreram na floresta amazônica na Bolívia, Brasil e Peru durante o ano de 2019.
O número de incêndios detectados na região amazônica brasileira foi de 89.178 em 2019, em comparação com 68.345 incêndios, em 2018. O número de incêndios atingiu o pico em agosto, com 30.868 incêndios generalizados em todo o sul e leste do Amazonas.
A publicação “State of the Climate” em 2019 ( Estado do Clima Mundial em 2019) na íntegra está disponbilizado no link: https://www.ametsoc.org/index.cfm/ams/publications/bulletin-of-the-american-meteorological-society-bams/state-of-the-climate/
Fonte: Ascom/Cemaden