A escassez de chuva e o baixo nível dos principais rios – observados desde os meados de março deste ano no estado do Acre – serão agravados nos próximos dois meses, considerados os mais secos do ano. As chuvas mais intensas são normalmente esperadas somente a partir do mês de setembro.
A Seca e Impactos no Acre são analisados no Relatório, lançado ontem – e que será elaborado, quinzenalmente – pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Nesse boletim, estarão disponibilizados o diagnóstico da situação hidro-meteorológica e ambiental, as previsões sobre o panorama hídrico, e as perspectivas e impactos potenciais relacionados à situação da seca.
“Identificamos a necessidade de acompanhar com análises e previsões o fenômeno de seca no Acre e os seus impactos sociais e econômicos na região. Esses estudos são importantes para fornecerem subsídios na tomada de decisões dos gestores públicos.”, afirma o coordenador-geral de Operações e Modelagens do Cemaden, meteorologista Marcelo Seluchi, co-responsável pela elaboração do relatório.
A falta de chuvas e o baixo nível dos principais rios no estado do Acre estão provocando diversos impactos na região, como problemas de abastecimento de água para consumo, redução da produtividade agrícola ou pastoril, dificuldade de transporte por meio de hidrovias, além da proliferação de incêndios florestais, entre outros.
As chuvas foram deficientes desde meados de março de 2016, e, climatologicamente, o trimestre de junho a agosto configura o período mais seco do ano. As maiores precipitações estão previstas somente a partir de setembro. Portanto, não há expectativa de recuperação do quadro hídrico até o mês de setembro, embora possam ocorrer chuvas ocasionais, provocadas principalmente por passagens de sistemas frontais.
Efeitos dos fenômenos “El Niño e “La Niña”
Seluchi explica que a seca no Acre pode ser atribuída em parte à ocorrência do fenômeno “El Niño”, iniciado no outono de 2015. Esse fenômeno climático, atmosférico e oceânico, está associado ao aquecimento anômalo das águas do Oceano Pacífico equatorial, o que está ligado a uma alteração nos ventos em boa parte do planeta e à alteração do regime de chuvas. No Brasil, o fenômeno costuma provocar um aumento das chuvas na Região Sul e a sua redução no extremo norte do país. O fenômeno “El Niño” encerrou no mês de junho, existindo atualmente a expectativa de desenvolvimento do fenômeno oposto, chamado do “La Niña”, provavelmente com intensidade fraca.
O fenômeno “La Niña”, associado ao esfriamento das águas do Oceano Pacífico, costuma provocar uma incidência maior de precipitações na região amazônica e sua diminuição na Região Sul.
“Hoje, tecnicamente, estamos em situação de neutralidade, mas existe a expectativa de desenvolvimento iminente do fenômeno de “La Niña”. Acompanharemos sua possível evolução, tanto no aumento da extensão do esfriamento das águas do Oceano Pacífico, como na intensidade das anomalias da temperatura do mar.”, enfatiza o meteorologista Marcelo Seluchi.
Entre os meses de julho a setembro, há mais de 60% de probabilidade de ter “La Niña” e menos 5% de ocorrer o fenômeno “El Niño”. Já para os meses de novembro de 2016 a janeiro de 2017, ou seja, na próxima estação chuvosa, a probabilidade de ocorrência do “La Niña” ascende a 75%. Contudo, a previsão climática sazonal para o trimestre Julho –Agosto-Setembro de 2016, elaborada pelo MCTIC, apresenta elevada incerteza. Sem previsão de melhoria, persiste o estado de alerta de baixa disponibilidade hídrica e consequentes impactos sócio-ambientais para o estado do Acre.