Chuvas escassas – ocorridas desde meados de março – e a previsão de pouca chuva para os próximos 15 dias deste mês agravam o panorama hídrico do estado do Acre, principalmente na região sudeste, e estresse vegetativo na região oeste. A situação de seca traz consequentes impactos socioambientais ao estado.
O registro de valores da umidade relativa do ar abaixo da média, além das previsões de pouca chuva para os próximos 15 dias na região da bacia do rio Branco, indicam um estado de atenção no monitoramento da seca no Acre.
“Não há previsão de melhoria significativa neste mês, persistindo o estado de alerta de baixa disponibilidade hídrica e consequentes impactos socioambientais.”, afirma o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operações e Modelagens do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, responsável pela equipe que elabora o Relatório de Seca e Impactos no Acre, divulgado hoje (08) no portal do Cemaden. “Não há expectativa de recuperação do quadro hídrico nas próximas duas semanas, embora possam ocorrer chuvas ocasionais”, complementa Seluchi.
Entre os impactos ambientais, podem ser destacados os problemas de abastecimento de água, a redução de produtividade agrícola ou pastoril, a dificuldade de transporte pelas hidrovias e a proliferação de incêndios florestais.
Déficit hídrico
A escassez das chuvas – com registros de déficit de precipitação e de baixos níveis dos principais rios da região – vem ocorrendo desde meados de março. Historicamente, o trimestre dos meses de junho a agosto configura o período mais seco do ano. Porém, as chuvas mais intensas, que normalmente começam a partir de setembro, não tem previsão para ocorrer, pelo menos de forma volumosa, nos próximos 15 dias.
A precipitação registrada nos últimos 90 dias mostra um quadro de déficit hídrico, com anomalias negativas de entre 50 e 100 mm, principalmente no setor sudeste do estado. De maneira geral, Amazônia vem enfrentando uma situação de seca configurada pelo intenso episódio de El Niño, que ocorreu durante a última estação chuvosa.
Seluchi explica que, em relação às chuvas, a ocorrência de episódios esporádicos de precipitação na segunda quinzena de agosto amenizou, parcialmente, o quadro deficitário. “Entretanto, aparentemente, isto ainda não causa reflexos significativos nos recursos hídricos, onde os indicadores seguem mostrando níveis muito baixos.”, destaca.
Baixo nível do Rio Acre
A cota mínima anual no Rio Acre, na capital Rio Branco, ocorre geralmente em meados de setembro. Em 2016, o valor de cota mínimo foi observado em 12 de agosto, em 1,32 m, valor menor que o mínimo absoluto anterior, observado em 10 de setembro de 2011, que foi de 1,5 m.
“Nos últimos 24 dias ocorreram chuvas irregulares dentro da área de drenagem da bacia, gerando um ligeiro aumento da cota no ponto de monitoramento na capital do Acre.”, explica Seluchi, sinalizando uma estabilidade: “Embora não haja previsão de chuvas significativas para os próximos dias, ocorrências leves em diferentes partes da bacia podem sustentar o atual nível do rio.”
Impactos da seca na vegetação e focos de calor
Foi agravada a seca vegetativa por estresse térmico na maior parte dos municípios localizados a oeste do Acre. Houve um aumento do número de detecções de focos de calor , ultrapassando o máximo já registrado entre 1998 e 2016, o que pode, também, aumentar o risco de incêndios florestais.
O relatório aponta que o trimestre Setembro-Outubro-Novembro pode marcar a transição para um episódio de “La Niña”, provavelmente com fraca intensidade e curta duração. Contudo, a previsão climática sazonal para o trimestre Julho-Agosto-Setembro/2016, elaborada pelo MCTIC, apresenta elevada incerteza para essa região.