1) Índice Integrado de Seca – IIS
De acordo com o Índice Integrado de Secas (IIS) para o mês de outubro, em grande parte do país são observadas condições de seca variando de fraca à extrema. Em relação ao mês de setembro, o índice aponta que houve uma expansão nas condições de seca moderada a severa, principalmente nas regiões Sul e Centro-Oeste. No Centro-Oeste, o IIS apontou que houve uma intensificação de seca, além da expansão das condições de seca moderada a extrema, principalmente no estado do Mato Grosso do Sul. Na região Sul, os estados do Paraná e Santa Catarina permanecem com condições de seca, sendo observado aumento das áreas e intensificação em algumas regiões. Na região Sudeste, observou-se um aumento das áreas de seca, devido a escassez das chuvas. As áreas mais afetadas foram o estado de São Paulo, norte de Minas Gerais, sul do Espírito Santo e noroeste do Rio de Janeiro. Em termos da duração de seca, contabilizada pelo Índice Padronizado de Precipitação (SPI), nota-se duração superior a 6 meses consecutivos, principalmente na região Centro-Oeste.
Em razão das condições de seca, destaca-se o prolongamento do atraso no plantio das novas safras de culturas agrícolas principalmente nas primeiras semanas de outubro, em estados do centro-sul do Brasil, sobretudo Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina, segundo informações da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja/MS), do Departamento de Economia Rural (Deral) do Paraná e do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa) de Santa Catarina. No Mato Grosso do Sul, os efeitos da seca puderam ser observados principalmente, pelo aumento das queimadas no Pantanal, que atingiram a vegetação nativa, animais locais (áreas inundáveis), além de terem reduzido a visibilidade em estradas. No município de Alegre, localizado no sul do Espírito Santo, em decorrência das condições de secas, também registrou-se impactos como queimadas, diminuição dos níveis dos reservatórios, prejuízos à pecuária (de leite e corte) e falta de alimentos, conforme relatado por meio do “Formulário Online para Registro e Avaliação de Impactos das Secas”, disponível nas páginas dos boletins do Cemaden (Registro de Impactos de Secas).
2) Impactos na Vegetação: Áreas com condição de estresse hídrico
A avaliação de impactos do déficit hídrico na vegetação é realizada por meio do Índice de Suprimento de Água para a vegetação (ISACV). A condição de estresse hídrico acontece quando a água armazenada no solo é insuficiente para sustentar o crescimento vegetal. As regiões Nordeste e Centro-Oeste são as que apresentaram maiores áreas de vegetação em condição de estresse hídrico, totalizando cerca de 679.000 km² (43% do N) e 612.000 km² (38% do CO). Na região Norte, houve uma redução das áreas em condição de estresse hídrico e estas representam um total de 109.500 km² (2% do N) de área impactada.
A condição de seca vegetativa prolongada (por vários meses, por exemplo) pode causar impactos nas reservas hídricas superficiais e até subterrâneas, podendo ocasionar escassez hídrica. Este fenômeno refere-se às incompatibilidades da oferta hídrica (armazenamento de água) em atender todas as demandas hídricas (abastecimento público, usos industriais, irrigação, entre outros). Diversas regiões do país têm sido afetadas pela escassez hídrica. No Estado do Ceará, em outubro, cerca de 80 açudes estavam com volume de água abaixo de 30% da sua capacidade total, estando a maior parte com volume abaixo dos 10%. Dentre estes, mais de 20 reservatórios encontravam-se no volume morto e outros 11 estavam secos, segundo a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). No Distrito Federal, o Plano de Restrição para o Sistema de Abastecimento de Sobradinho e Planaltina foi acionado pela Caesb devido às dificuldades no abastecimento, determinando cortes no fornecimento de água em diversas regiões, conforme informações da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb). Do mesmo modo, nos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, diversos municípios tiveram o seu abastecimento de água prejudicado, devido aos baixos níveis de rios e reservatórios, como reportado pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Cordeirópolis – SP, pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) e pela Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan).
3) Impactos Hidrológicos
A figura 4 apresenta o Índice Integrado de Seca (IIS) para as regiões Sudeste e Centro-Oeste do país. É possível observar em grande parte da bacia afluente ao reservatório da UHE de Serra da Mesa (sub-bacia do rio Tocantins), localizado no Centro Oeste do país, uma condição de seca variando de fraca à extrema. No sudeste do país, na bacia afluente ao reservatório da UHE de Três Marias (sub-bacia do rio São Francisco), notam-se também algumas áreas classificadas numa condição de seca fraca a moderada. Apesar de grande área de drenagem apresentar condição normal, do ponto de vista da seca agrícola, estes reservatórios vêm enfrentando chuvas abaixo da climatologia há alguns anos, o que tem causado impactos em suas reservas hídricas. No sistema Cantareira, também no Sudeste do país, nota-se uma condição seca variando entre normalidade e fraca em toda sua bacia de drenagem, entretanto, assim como outros reservatórios dessa região, vem enfrentando chuvas abaixo da climatologia há alguns anos.
Os reservatórios do Sistema Cantareira, responsáveis pelo abastecimento de cerca de 7,4 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo, apresentou, no dia 04 de novembro de 2019, aproximadamente 40,4% da sua reserva hídrica, passando para a faixa de operação de “alerta” (armazenamento entre 30% e 40%), de acordo com a Resolução Conjunta ANA/DAEE Nº 925. Na figura 5 apresentam-se as vazões médias mensais observadas nos últimos meses e, na sequência, cenários de vazão, em função de cenários de precipitação, para os próximos meses. No mês de outubro de 2019, a vazão média afluente a estes reservatórios foi de 8 m³/s, o que representa 30% da média histórica para este mês (28,3 m³/s). Os cenários de vazão simulados sugerem que, mesmo considerando precipitações em torno da média climatológica, as vazões se manterão abaixo da média histórica nos próximos meses.
O reservatório da UHE de Três Marias, localizado na porção alta da bacia do Rio São Francisco, na região Sudeste, operou em 04 de novembro de 2019, com 53,3% de seu volume útil armazenado. Este reservatório tem apresentado importância para esta bacia, contribuindo para a manutenção das vazões e das reservas hídricas nos trechos a sua jusante, principalmente para o reservatório de Sobradinho. Na figura 6 apresentam-se as vazões médias mensais observadas nos últimos meses e, na sequência, projeções de vazão, em função de cenários de precipitação, para os próximos meses. No mês de outubro de 2019, a vazão média afluente a este reservatório foi de 71 m³/s, o que representa 29% da média histórica para este mês (241 m³/s). Os cenários simulados para este reservatório sugerem que considerando precipitações em torno da média climatológica, as vazões, nos próximos meses, se manterão abaixo da média histórica.
O reservatório da UHE de Serra da Mesa localizado na porção alta da bacia do rio Tocantins, apresentou, no dia 05 de novembro de 2019, aproximadamente 13,6% do seu volume útil armazenado. Este reservatório tem como objetivo, além de outros usos, regularizar a vazão do rio principal e contribuir para o abastecimento de reservatórios localizados no rio Tocantins, a jusante de Serra da Mesa, e vem enfrentando desde 2015 condições hidro-meteorológicas desfavoráveis. Na figura 7 apresentam-se as vazões médias mensais observadas nos últimos meses e, na sequência, projeções de vazão, em função de cenários de precipitação, para os próximos meses. No mês de outubro de 2019, a vazão média afluente a este reservatório foi de 104 m³/s, o que representa 41% da média histórica para este mês (254 m³/s). Os cenários simulados para este reservatório nos próximos meses, considerando precipitações em torno da média climatológica, sugerem que as vazões mantenham-se abaixo da média histórica.
A figura 8 apresenta o Índice Integrado de Seca (IIS) para a região Nordeste do país. Nas bacias afluentes ao reservatório Epitácio Pessoa (Boqueirão) na Paraíba, nota-se uma condição normal à fraca com relação à análise de seca agrícola, no mês de outubro. Para esse mesmo período, no reservatório Castanhão, no Ceará, nota-se, em grande área da bacia, condição de seca normal à extrema. Ambos os reservatórios se encontram em situação de escassez hídrica com redução acentuada de suas reservas nos últimos anos.
O reservatório (açude) Epitácio Pessoa/Boqueirão, localizado no estado da Paraíba, apresentou, no dia 05 de novembro de 2019, aproximadamente 18% do seu volume útil armazenado. Este reservatório, que abastece a cidade de Campina Grande e outros dezoitos municípios paraibanos (cerca de 700 mil habitantes), está enfrentando condições hidro-meteorológicas desfavoráveis desde 2012, o que vem reduzindo seu volume armazenado. Projeções para o reservatório Epitácio Pessoa/Boqueirão indicam que, mantendo-se as extrações atuais e considerando um cenário de precipitação na média histórica, o armazenamento de água deverá diminuir nos próximos meses, atingindo, no final de janeiro de 2020, cerca de 16% da sua capacidade total (Figura 9), entretanto, considerando um cenário de precipitações na média climatológica e o aporte do rio São Francisco (atualmente ainda não reestabelecido neste reservatório), o armazenamento poderá aumentar, atingindo aproximadamente 20% de sua capacidade total. Ressalta-se que estes cenários podem ser alterados devido à possibilidade de mudanças na extração de água para o abastecimento público, assim como mudanças no aporte da vazão da transposição do Rio São Francisco.
O reservatório Castanhão, maior reservatório (açude) do Nordeste, com capacidade de 6,7 bilhões de m3 de água, localizado no estado do Ceará, operou no dia 05 de novembro de 2019 com um volume armazenado de apenas 3,8% de sua capacidade total. Este reservatório, que abastece oito cidades no Vale do Jaguaribe, além de contribuir com o atendimento da demanda hídrica da região da Grande Fortaleza e regiões vizinhas (cerca de 4,6 milhões de habitantes), também vem enfrentando condições hidro-meteorológicas desfavoráveis desde 2012, ocasionando uma redução acentuada do seu volume armazenado. As projeções indicam que, considerando chuvas na média climatológica, o volume armazenado no Castanhão aumentaria ligeiramente, podendo chegar a 4,1% da sua capacidade no final de janeiro de 2020 (Figura 10). Entretanto, esta simulação não considera eventuais armazenamentos em pequenos açudes localizados na sua bacia de captação, o que pode alterar a presente projeção.