Cemaden Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais
O reservatório da usina hidrelétrica de Três Marias, localizado na porção alta da bacia do Rio São Francisco, atua como importante fonte de produção energética para o país, além de contribuir para as reservas hídricas dos reservatórios de Sobradinho, Paulo Afonso e Xingó, maior complexo hidrelétrico do Nordeste, responsável por 95% da energia gerada na região. Essa bacia vinha, ao longo dos anos de 2014 a 2019, passando por uma grave crise hídrica, caracterizada pela redução significativa de sua vazão e, consequentemente, redução do nível de armazenamento no reservatório, além de outros problemas de conservação ambiental. Em função dos índices pluviométricos acima da média, observados na estação chuvosa de 2019-2020, aliado às medidas de regulação implementadas pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), o reservatório atingiu, em abril de 2020, sua capacidade máxima de armazenamento (100% de seu volume útil), chegando à necessidade de verter água (defluência de água sem que seja aproveitada para geração de energia elétrica). Isso fez com que o Cemaden suspendesse a publicação mensal do relatório, cujo monitoramento e previsões realizados para este reservatório tem como finalidade alertar a possibilidade de escassez hídrica. No entanto, durante a estação chuvosa de 2020-2021 foi observado, novamente, índices pluviométricos deficitários. Esse fato, aliado a finalização da estação chuvosa um mês antes do previsto, fez com que as vazões bem como o nível do reservatório reduzissem significativamente. Em função dessa atual crise hídrica, o Cemaden está retornando a publicação dos relatórios para esta bacia.
Durante os meses secos que compreendem parte da estação seca de 2021 (abril a julho), a precipitação acumulada correspondeu ao valor de 10% da média histórica do período (abril a setembro) e no mês de julho de 2021 foi registrado menos que 1% em relação à média histórica na bacia (9 mm). Considerando tais fatores e aliado às medidas de regulação implementadas pela ANA, o reservatório encontra-se com 55% do volume útil. Com relação às projeções, em um cenário de chuvas na média histórica para o período de agosto a dezembro e considerando uma defluência média de 400 m3/s, se projeta uma vazão afluente ao reservatório na ordem de 72% do valor histórico, configurando dessa forma, uma situação melhor ao observado no mesmo período do ano de 2020 (54% do valor histórico).
Condições atuais
A precipitação média espacial, acumulada durante os meses secos de abril a julho de 2021, baseado nas redes pluviométricas que cobrem a bacia de captação do aproveitamento hidrelétrico de Três Marias (12 pluviômetros do INMET e 34 pluviômetros do CEMADEN), foi de 19 mm, equivalente a 10% da média climatológica (1983-2020) para o período da estação seca, entre abril e setembro (185 mm). No mês de julho de 2021, a precipitação média registrada na bacia foi de aproximadamente 1 mm, valor que representa menos que 1% da média histórica para este período (9 mm).
A vazão natural[1] média do aproveitamento hidrelétrico de Três Marias possui um período de retardo, de aproximadamente 1 mês, em relação ao início das chuvas na bacia. Dessa forma, a vazão média na bacia, nos meses secos de maio a julho de 2021, de acordo com os dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), foi 145 m3/s, o que equivale a 55% da média histórica para o período seco, compreendido entre maio a outubro (264 m3/s). No mês de julho de 2021 a vazão natural média foi 102 m³/s, 42% da vazão histórica média mensal, considerando o período de 1983-2020 (244 m³/s). Ainda segundo o ONS, a vazão defluente média, para o mês de julho, foi de 409 m3/s. O reservatório de Três Marias operou no dia 31 de julho de 2021, com 55% do volume útil.
[1] Vazão que existiria caso não houvesse interferência humana.
Previsão de chuva para os próximos dias
A região de cabeceira do rio São Francisco se encontra atualmente no auge do período seco. Assim, as previsões baseadas no modelo GENS/NOAA indicam volumes pluviométricos muito pequenos, ou, inclusive, ausência de chuva para os próximos 10 dias (Figura1).
Projeção de vazão e de volume armazenado para os próximos meses
A Figura 2 apresenta, além das vazões médias mensais observadas, as projeções de vazão natural média mensal (em m³/s), obtidas a partir da previsão de precipitação para o período 01 a 10 de agosto de 2021 e dos cenários de precipitação de 11 de agosto a 31 de dezembro de 2021. Para a obtenção das projeções da vazão natural média mensal foram considerados quatro diferentes cenários de precipitação: média histórica, 25% acima e abaixo da média e um cenário de precipitação igual ao ocorrido no período de agosto a dezembro de 2012 (série mais crítica de precipitação do histórico, 1983-2020).
As simulações indicam que, considerando um cenário de chuva na média histórica, a vazão média no período entre agosto a dezembro de 2021 será de, aproximadamente, 302 m³/s, o que representa, em porcentagem, cerca de 72% da vazão média histórica desse período (420 m³/s). Esse valor é superior quando comparado a vazão média registrada neste mesmo período do ano de 2020 (63%).
A Figura 3 exibe as projeções da evolução diária do volume armazenado no reservatório do Aproveitamento Hidrelétrico Três Marias usando a previsão e projeção de vazões, e considerando uma defluência média de 400 m3/s para o período de agosto e dezembro (conforme divulgado pela ANA/CEMIG/ONS). Nestas simulações de projeção de armazenamento foram incorporadas as captações outorgadas pela ANA[2] no reservatório Três Marias (em valores médios mensais).
Segundo as projeções, no cenário de precipitação na média histórica, o reservatório, estará em 31 de dezembro de 2021 com, aproximadamente, 45% do volume útil (faixa de operação “Atenção”), valor similar quando comparado ao mesmo período de 2020 (48%). É importante salientar que esse valor pode sofrer variações de acordo com o cronograma de defluência do ONS.
[2] http://www2.ana.gov.br/Paginas/institucional/SobreaAna/uorgs/sof/geout.aspx#outorgasana
