O evento de chuvas extremas ocorrido no final de janeiro de 2020, no Estado de Minas Gerais – afetando mais de 100 municípios, causando múltiplas mortes e graves impactos socioeconômicos – foi o tema de estudos realizados por jovens pesquisadores, durante o Workshop organizado pelos pesquisadores do grupo de Ciência para os Serviços Climáticos no Brasil (CSSP-Brasil), da Universidade de Oxford, do instituto meterológico Met Office (do Reino Unido) e do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden)- unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
O workshop foi realizado, virtualmente, no período de 30 de novembro a 11 de dezembro de 2020, como parte do Projeto AFLAME (Attributing Amazon Forest fires from Land-use Alteration and Meteorological Extremes) – iniciativa do CSSP-Brasil e liderado pela pesquisadora da Universidade de Oxford, Sarah Sparrow.
O Projeto AFLAME concentra-se na compreensão das mudanças nos riscos, causas e impactos dos incêndios florestais na Amazônia. Segundo os cientistas, há uma percepção emergente de que os incêndios florestais na Amazônia – que antes eram causados pelo desmatamento e expansão agrícola – agora estão crescendo a magnitudes sem precedentes, por causa dos extremos meteorológicos.
O workshop atraiu participantes do Cemaden, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Exeter (Reino Unido).
Nos estudos realizados sobre o evento das chuvas extremas em Minas Gerais, ocorrido no início deste ano, um grupo se concentrou em avaliar a influência das mudanças climáticas nas chuvas e outro grupo em quantificar os impactos. A equipe teve como objetivo responder às seguintes questões: “Quais foram os impactos desse evento extremo em diferentes setores da sociedade? A mudança climática afetou a probabilidade de ocorrerem eventos semelhantes?”
Resultados dos estudos
Para a pesquisadora do Cemaden, Liana Anderson, a dinâmica do grupo funcionou muito bem e a equipe conseguiu conciliar os resultados em uma forte mensagem. O estudo constatou que esse evento ocorrido em janeiro, em MG, em particular, se tornou mais provável devido às mudanças climáticas. “Na avaliação dos estudos, ainda há muito a ser feito para amenizar os impactos de desastres dessa magnitude, como o planejamento urbano e medidas estruturais, necessárias com urgência para diminuir a vulnerabilidade social.”, afirma a pesquisadora Liana Anderson.
“Estou realmente impressionada com o entusiasmo dos participantes e as contribuições dos tutores. Os palestrantes externos foram inestimáveis para tornar o evento um sucesso”, afirma a pesquisadora Sarah Sparrow, da Universidade de Oxford.
A gerente de comunicações Julie Meikle (Universidade de Oxford) conduziu uma sessão de comunicação onde os participantes praticaram maneiras de disseminar as principais descobertas para um público mais amplo, criando um roteiro de vídeo para mídia social e um folheto de informação ao público. “As descobertas de estudos como este podem informar a política e o planejamento, bem como ajudar a influenciar o interesse público e a compreensão das questões das mudanças climáticas.” afirma Meikle, explicando que a iniciativa contribui , com as pesquisas mais recentes, baseadas em evidências para uma área-chave do debate público. “Por isso é vital comunicá-los para além do público acadêmico.”
“Este workshop será um exemplo para mim como um cientista em início de carreira na organização ou colaboração em orientar meus próprios workshops futuros.”, afirma Ricardo Dalagnol, pesquisador de pós-doutorado da Divisão de Observação da Terra e Geoinformática (DIOTG) do INPE, participante do workshop.
“Foi um workshop muito bom. Talvez um dos melhores que já participei. Gostei da ideia de uma ‘investigação livre’, permitindo dar mais contribuições, do que uma receita pronta ou regras durante o workshop. Acredito que aprendemos mais desta forma.”, afirma a pesquisadora de pós-doutorado do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG / USP), Carolina B. Gramcianinov .
O grupo continuará se reunindo e formalizando seus resultados para elaboração de um artigo científico. Outra meta é traduzir os resultados de seu estudo para uma linguagem mais acessível, a fim de divulgar os resultados e alertar os principais formuladores de políticas sobre os riscos crescentes de exposição da população, vulnerabilidade e impactos das mudanças climáticas para a sociedade.
(Fonte : Ascom/Cemaden)